Alunos
brasileiros que repetem de ano têm nota até 25% menor no Pisa
G1 cruzou dados de desempenho com
histórico de repetência dos alunos.
Nota também é mais baixa entre quem se atrasa ou costuma 'matar' aula.
Nota também é mais baixa entre quem se atrasa ou costuma 'matar' aula.
Ana Carolina Moreno e Thiago Reis Do G1, em São Paulo
Estudantes brasileiros que fizeram as provas do
Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa, na sigla em inglês) em
2012 e afirmaram já ter repetido de ano mais de uma vez tiveram desempenho até
25% pior que os alunos que nunca reprovaram em uma série escolar. Um
levantamento feito pelo G1 com base no questionário aplicado pelo Pisa
mostra uma relação direta entre a repetência, a frequência escolar e o
desempenho no exame.
Os dados do Pisa foram coletados pelo coordenador
de projetos da Fundação Lemann, Ernesto Martins Faria, que diz que o resultado
não indica necessariamente que repetir impacta o aprendizado de forma negativa,
mas que essa grande diferença no desempenho aponta para uma ineficiência na
repetição da série. "É possível perceber que poucos alunos que já
repetiram a série demonstram um aprendizado adequado. Considerando os
malefícios da política [pode favorecer o abandono escolar e estigmatizar o
estudante], esse cenário merece atenção."
Já o professor Ocimar Alavarse, da Faculdade de
Educação da Universidade de São Paulo (USP), afirma que é difícil avaliar, com
base nos dados, se a repetência funciona ou não. "Mesmo que esses alunos
tenham crescido [se desenvolvido] após cursar novamente a série, não significa
que eles vão ficar no patamar dos que nunca repetiram. Isso porque eles já
vinham de estratos menores de proficiência. Talvez pudessem ter ido ainda pior
se não tivessem repetido de ano."
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O Pisa é aplicado pela Organização para Cooperação
e Desenvolvimento Econômico (OCDE) a cada três anos com estudantes de 15 anos –
perto de concluírem o ciclo básico de ensino. O objetivo é analisar até que
ponto esses adolescentes aprenderam conceitos e habilidades consideradas
"essenciais para a completa participação em sociedades modernas". O
Brasil não é membro da OCDE, mas é um dos integrantes da avaliação, além de
fazer parte, desde 2013, do conselho diretor do programa.
Na terça-feira (1°), foi divulgado pela primeira
vez o resultado de um teste de raciocínio aplicado pelo Pisa. Os estudantes brasileiros ficaram na 38ª posição, com 428 pontos, entre
um total de 44 países.
O questionário que os alunos responderam na prova
incluía perguntas sobre frequência escolar e repetência. Uma das questões
perguntava aos estudantes se eles já haviam repetido de ano uma ou mais vezes
em três etapas diferentes do ensino básico: durante os anos iniciais do ensino
fundamental, nos anos finais do fundamental, e/ou ao longo do ensino médio.
Mais de dois terços dos participantes brasileiros
responderam que nunca ficaram retidos em nenhuma dessas etapas. De acordo com o
Pisa 2012, a média no teste de leitura dos candidatos que nunca haviam repetido
nas primeiras séries do ensino fundamental foi de 435 pontos, enquanto a dos
alunos que admitiram ter repetido mais de uma vez nessa mesma etapa foi de 326
pontos (25% menor).
Em matemática, os estudantes não repetentes ficaram
com média de 412 pontos, enquanto aqueles que haviam repetido mais de um ano no
fundamental tiveram média de 325 pontos – desempenho 21% menor. Já em ciências,
os participantes não repetentes tiveram média de 425 pontos, contra 331 dos
repetentes, o que representa uma redução de 22% na nota.
Os estudantes brasileiros não repetentes tiveram
pelo menos 20 pontos a mais na nota final que a média do país nas três provas.
Já os que repetiram mais de um ano ficaram pelo menos 66 pontos abaixo da média
nos três exames. A maior diferença foi em leitura: quem repetiu mais de um ano
no início do ensino fundamental ficou com 84 pontos a menos que a média
nacional, e 109 pontos atrás de quem nunca repetiu entre o primeiro e o quinto
anos do fundamental.
Brasil fica entre os últimos em teste de raciocínio
do Pisa; veja o vídeo ao lado
Atrasos e aulas perdidas
O questionário aplicado pelo Pisa também revelou se
os alunos costumavam se atrasar para as aulas ou se tinham o hábito de
"matar" dias inteiros na escola. O cruzamento feito pelo G1
mostra que, quanto mais frequentes são esses hábitos, menor é a nota média do
grupo analisado.
Os alunos que disseram não ter se atrasado para
nenhuma aula nas duas semanas anteriores ao Pisa tiveram média de 413 pontos em
leitura, 394 em matemática e 408 em ciências. Já os que afirmaram ter se
atrasado pelo menos cinco vezes no período ficaram com nota média de 391 pontos
em leitura, 372 em matemática e 381 em ciências.
No caso dos participantes que "mataram"
aula cinco ou mais vezes no período de duas semanas, as médias de leitura,
matemática e ciências foram 358, 357 e 327 pontos, respectivamente. Já os
estudantes que fizeram o Pisa e disseram não ter faltado a nenhuma das aulas
nesse tempo ficaram com média 413, 394 e 407.
Para o coordenador de projetos da Fundação Lemann,
Ernesto Martins Faria, a diferença entre as notas reflete, em grande parte, a
diferença de perfil entre os estudantes. "Alunos que não faltam nem chegam
atrasados provavelmente são mais engajados para o estudo. O que sabemos por
pesquisas é que o acompanhamento próximo do aluno, incluindo sua presença e
pontualidade, traz benefícios significativos para o aprendizado."
Ocimar Alavarse, da USP, diz que os dados podem
esconder uma realidade brasileira. "O fato de o estudante chegar atrasado
com uma frequência maior pode indicar alguma dificuldade de acesso à escola.
Também pode refletir [a falta de] alguns cuidados da família com ele. Já o caso
do aluno que chega a 'matar' aula, que nem vai para a escola, pode denotar um
controle da família menor ainda. Ou refletir condições socioeconômicas, porque
há o estudante que não vai porque foi ajudar o pai a vender algo ou o que
precisou ficar cuidando do irmãozinho."
Já Faria aponta que escolas com bons resultados na
Prova Brasil, como as de Sobral e Pedra Branca (CE) e Foz do Iguaçu (PR), têm
um olhar atento sobre cada estudante no que diz respeito à pontualidade, à
presença e ao aprendizado em sala de aula.
Alavarse concorda que esse é o caminho. "A
escola não muda o mundo, mas em algumas coisas ela pode interferir, sim",
afirma. "O acompanhamento, se a criança está chegando atrasada, se está
faltando e, claro, se está tendo um bom desempenho, é fundamental. Parte do
engajamento dos alunos depende do papel da escola."
http://g1.globo.com/educacao/noticia/2014/04/alunos-brasileiros-que-repetem-de-ano-tem-nota-ate-25-menor-no-pisa.html
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