quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

Pesquisadores da Ufam propõem alternativas de Monitoramento da Reserva Mamirauá

Na palestra ocorrida na manhã do dia 27 de janeiro, durante a programação da Escola Avançada de Sistemas Computacionais e Robóticos (Earth), o diretor-técnico do Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá (IDS), João Valsecchi, falou sobre os desafios e particularidades do cenário amazônico e apontou soluções para o monitoramento na reserva sustentável Mamirauá.

Atualmente, os estudos utilizam rádio telemetria e colares GPS para monitorar onças, peixes-bois, macacos, aves e invasões na floresta. Distâncias, difícil acesso, calor e umidade, ausência de energia elétrica continuada, comunicação inexistente na maioria das áreas, resistência ao clima e intempéries amazônicas, entre outras, são os desafios levantados pelo pesquisador. “Precisamos de solução porque todos os nossos equipamentos quebraram com descargas atmosféricas e por causa da grande quantidade de sedimentos na água, que entopem os equipamentos”, explica João Valsecchi.

Cerca de 12 onças-pintadas estão em monitoramento na reserva por meio de um cordão de GPS. A dificuldade relatada por Valsecchi está na captura dos animais. “Uma armadilha é colocada em trilhas, mas a checagem das armadilhas é feita de forma manual. A cada seis horas, os pesquisadores precisam ir in loco saber se alguma onça foi capturada. Por que não implantarmos um bipe junto às armadilhas com monitoramento de câmeras? Isso evitaria deslocamento a cada seis horas e acidentes envolvendo os pesquisadores”, disse. 
Ainda segundo o palestrante, o monitoramento por rádio exige a presença constante dos pesquisadores em campo pois as tecnologias de satélite não são aplicáveis ao ambiente amazônico, devido à necessidade de um componente flutuante do transmissor, que pode chamar a atenção de caçadores e também ser facilmente removido em áreas de igapó.

Possível solução
Um balão dirigível (aeróstato) com câmeras, sensores, e conexão de rádio, acoplados ao veículo aéreo, seria a solução encontrada para ajudar a fazer monitoramento da biodiversidade e de intrusões. O experimento, concebido pela equipe do projeto Aeróstato Remoto de Telecomunicação e Sensoriamento (Artes), é coordenado pelo professor do Instituto de Computação (Icomp) da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), Reginaldo Carvalho, doutor em Engenharia Elétrica e da Computação, e deve ser testado ainda este ano na reserva. Uma comitiva de pesquisadores especialistas em sistemas computacionais e robóticos visitará a reserva para conhecer os problemas in loco

Manejo sustentável de Quelônios com comunidades tradicionais da Amazônia



O Programa de Extensão Manejo Comunitário de Quelônios, comumente conhecido na Amazônia como Projeto Pé-de-Pinchá, é um programa institucional da UFAM que ajuda as populações tradicionais na conservação de quelônios ameaçados pela caça predatória.
Criado em 1999 na cidade de Terra Santa (Pará), o Pé-de-pincha se expandiu na Amazônia, e passou a atuar, ao longo de 16 anos de atividades, em 118 comunidades e 15 municípios do Amazonas e Pará. Ao todo já foram devolvidos à natureza mais de 3,5 milhões de filhotes de quelônios.

A sensibilização ocorre através de um grande trabalho de Educação Ambiental com os comunitários, coordenado por professores, alunos e técnicos da UFAM, em parceria com as prefeituras locais e órgãos ambientais como o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA); Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio); Secretaria de Estado de Meio Ambiente, Departamento de Mudanças Climáticas e Unidades de Conservação(SEMA/DEMUC); e secretarias municipais de meio ambiente. O Programa é patrocinado pela Petrobras, através de seus programas socioambientais até 2016, e é coordenado na Ufam pelo professor Paulo César Machado Andrade, da Faculdade de Ciências Agrárias (FCA).

Quelônios
Pé-de-pincha é um nome alusivo ao formato das pegadas do Tracajá (Podocnemis unifilis) na areia, parecidas com tampinhas de refrigerante (Pés de pincha). Essa foi a primeira espécie a ser protegida pelo Programa, no lago do Piraruacá, Terra Santa (Pará), em 1999. Em seguida, mais cinco espécies também passaram a ser protegidas pelo Programa: Pitiús ou Iaçás (P.sextuberculata), Tartarugas (P.expansa), Irapucas ou Calalumãs (P.erythrocephala), Cabeçudos (Peltocephalus dumerilianus), e os Muçuãs (Kinosternon scorpioides).

Etapas
Para obter êxito na preservação desses animais, o Pé-de-pincha segue uma programação de atividades, divididas em quatro etapas que acontecem durante todo o ano: Planejamento, Sensibilização e Capacitação dos Comunitários e dos Voluntários da UFAM (abril e junho); Monitoramento e Proteção dos Ninhos ou Coleta (agosto e outubro); Nascimento dos Filhotes ou Eclosão (novembro e dezembro); Soltura dos Filhotes (fevereiro e março Monitoramento e Proteção dos Ninhos ou Coleta.

No período de julho a setembro, ocorre na UFAM a divulgação do Programa, através de reuniões e palestras semanais para alunos, técnicos e professores, interessados em serem voluntários do projeto. Eles também recebem treinamento para atuarem auxiliando os comunitários na proteção de ninhos e filhotes de quelônios, e  na realização dos registros dos dados do trabalho de monitoramento comunitário.

Cada etapa gera um relatório final, que depois é apresentado e entregue para as Secretarias Municipais de Meio Ambiente e Prefeituras, e órgãos ambientais (IBAMA, ICMBio e SEMA), fechando, assim, a execução anual das atividades do Projeto.

Educação Ambiental e geração de renda
Uma ferramenta pedagógica estratégica para o sucesso do manejo sustentável dos quelônios com os comunitários é a Educação Ambiental. O objetivo é capacitar os professores das escolas rurais (ensino fundamental e médio) para que eles consigam conscientizar seus alunos e até mesmo a própria comunidade sobre a importância de conservar a natureza, em especial os quelônios.

Pesquisadores do Instituto de Ciências Biológicas (ICB), da Faculdade de Educação (Faced) e Técnicos Educadores Ambientais coordenam o Núcleo de Educação Ambiental do Pé-de-pincha. “Eles seguem duas linhas básicas: a de sensibilização dos professores e comunitários e a da conscientização das crianças em idade escolar”, explica o professor Paulo César. 

Também são oferecidos aos comunitários os cursos de Agente Ambiental Voluntário, e Técnicas de Conservação e Manejo de Quelônios, além de outros cursos que dão alternativas para geração de renda na comunidade (Criação Caipira de Galinhas, Hortas Comunitárias, Criação de Abelhas Nativas, Criação de Animais Silvestres, Tecnologia do Pescado e Plantas Medicinais). Os cursos são ministrados pela Faculdade de Ciências Agrárias (FCA), ICB, e de outras instituições como o INPA, a EMBRAPA e a Universidade do Estado do Amazonas (UEA).

Atividades científicas
Do lado das seis espécies estudadas pelo Projeto, além da análise dos dados de monitoramento da produção de quelônios, por 16 anos, em cada uma das 118 localidades atingidas, o Pé-de-pincha também realiza, desde 2004, pesquisas sobre a estrutura e a dinâmica das populações desses animais em alguns municípios, através da captura, marcação e biometria dos adultos, jovens e filhotes. “Com isso foi possível estimar a abundância dos estoques populacionais, a estrutura de tamanho e faixa etária, a razão sexual em cada área, bem como a elaboração de tabelas de vida e estimadas as taxas de sobrevivência e crescimento dos quelônios”, elenca o Coordenador do Projeto”.

Através da marcação na carapaça de mais de 200 mil filhotes, e da aplicação de microchips transponders em 25 mil, foi possível determinar a taxa média de sobrevivência dos filhotes manejados (18% contra 15% dos que não recebem o mesmo manejo do Pé-de-pincha). Isso também permitiu avaliar o crescimento dos filhotes e determinar as curvas de crescimento e a movimentação desses animais.

Outro estudo realizado é do rastreamento em tempo real, via satélite, de 24 animais adultos (12 tartarugas e 12 tracajás) com o uso de radiotransmissores, o que permitiu observar a movimentação destes animais entre os anos de 2010 e 2015, verificando quais os ambientes mais visitados, quais as distâncias percorridas e qual sua área de vida.

Além desses estudos, têm sido desenvolvidos outros sobre fisiologia e bioquímica com filhotes e adultos de quelônios, e também da variabilidade genética desses animais através dos laboratórios da UFAM em parceria com a UEA.

Experiência para os acadêmicos
As atividades científicas desenvolvidas dentro do Projeto Pé-de-pincha são uma grande oportunidade de aprendizado acadêmico para os estudantes das mais diversas áreas do conhecimento. A recém-formada em Zootecnia pela Ufam, Liriann Chrisley Nascimento da Silva, 24, guarda boas lembranças dos seus cinco anos como voluntária do Projeto.

O primeiro convite veio através de um cartaz do Pé-de-pincha fixado em um dos blocos da FCA, convidando voluntários a participarem do Projeto. Após ouvir boas histórias de colegas que já haviam participado, Liriann viu no Pé-de-pincha uma oportunidade de crescimento pessoal e acadêmico. “Passei a participar dos treinamentos que capacitam os alunos antes de irem para campo e em outubro de 2010 fiz minha primeira viagem pelo Projeto”.

As principais atividades da voluntária durante os cinco anos de Pé-de-pincha foram de acompanhamento técnico nas comunidades de alguns municípios. “Conheci 11 dos 18 municípios que o Projeto abrange atualmente. Cada lugar pelo qual passei se tornou especial. Todos me marcaram de alguma forma, cada um tem um detalhe peculiar, diferente, uma experiência nova”, lembra Liriann.

Dos 11 municípios, Barreirinha (distante cerca de 330 quilômetros de Manaus) foi a cidade onde a Zootecnista mais teve experiências cientificas, culturais e sociais. Nas comunidades ela passou a acompanhar outras espécies de quelônios em cativeiro, onde mais tarde se aprofundou em estudar uma delas, conhecida regionalmente como Muçuã (Kinosternon scorpioides). Essa espécie rendeu uma monografia, onde Liriann apresenta um estudo sobre criação comunitária de Muçuã no Amazonas.

“Esse estudo além de contribuir com a conservação da espécie, pode facilitar o seu consumo de forma legal, gerando renda na comunidade. No Pará e no Nordeste, o Muçuã faz parte do hábito alimentar dessas populações. Logo a criação em cativeiro no Amazonas seria muito propícia, oferecendo, assim, aos criadores, um sistema de produção racional para melhor aproveitamento possível dessa espécie em cativeiro”, resume Liriann.

Pé-de-pincha na Ufam
O Programa de Extensão Manejo Comunitário de Quelônios está localizado no Bloco Z, Laboratório de Animais Silvestres, setor sul do Campus Universitário Senador Arthur Virgílio Filho. E-mails: pedepincha@gmail.com / pcmandra@yahoo.com.br (Professor Paulo César, coordenador geral). Saiba mais sobre o Projeto em um documentário no Youtube.
Com informações do Portal da Ufam

terça-feira, 26 de janeiro de 2016

Presidente do TRF1 e juiz federal apoiam as 10 Medidas Contra a Corrupção

O presidente do Tribunal Regional Federal da 1ª Região, desembargador Cândido Ribeiro Filho, e o juiz Marllon Sousa, titular da 2ª Vara Federal no Amazonas manifestaram apoio à campanha 10 Medidas Contra a Corrupção, durante a solenidade de lançamento do Processo Judicial Eletrônico (PJe) na Seção Judiciária do Amazonas, ontem (25).

A campanha 10 Medidas Contra a Corrupção é de iniciativa popular e não tem qualquer vínculo partidário. O objetivo é reunir 1,5 milhão de assinaturas em todo o Brasil como forma de apoio às propostas de mudanças legislativas apresentadas pelo MPF ao Congresso Nacional para melhorar a prevenção e o combate à corrupção e à impunidade no Brasil. Atualmente a campanha soma mais de 1,2 milhão de assinaturas em todo o país, sendo 37 mil já registradas só no Amazonas.

O conjunto de propostas contempla metas como a criminalização do enriquecimento ilícito; aumento das penas e crime hediondo para corrupção de altos valores; celeridade nas ações de improbidade administrativa; reforma no sistema de prescrição penal; responsabilização dos partidos políticos e criminalização do caixa 2; entre outros ajustes legislativos. 

Mais assinaturas – A Universidade do Estado do Amazonas (UEA) também apoia a campanha 10 Medidas Contra a Corrupção e entregou ao MPF 3.140 assinaturas, coletadas nas unidades da instituição localizadas no interior do Estado desde novembro do ano passado.

Estas assinaturas serão registradas e somadas às 37 mil já coletadas no Amazonas, levando o Estado a ultrapassar a marca de 40 mil assinaturas em apoio às 10 Medidas.
Outras informações sobre a campanha podem ser obtidas no site www.dezmedidas.mpf.mp.br.

EMBRAPA Lançaprograma para expansão da cadeia do açaí



O açaí, fruto amazônico que tem conquistado espaço no mercado nacional e interacional e é a segunda maior cadeia produtiva da agricultura do Pará, ganhou nesta segunda-feira, 25, em Belém, um conjunto de ações que pretende expandir a área de produção em 50 mil hectares (ha), resultando em aumento de 360 mil toneladas de frutos até 2024. O Programa de Desenvolvimento da Cadeia Produtiva do Açaí no Estado do Pará (Pró-Açaí) foi elaborado pela Secretaria pela Secretaria de Desenvolvimento Agropecuário e da Pesca (Sedap) em parceria com a Embrapa Amazônia Oriental e outras instituições e tem entre seus desafios diminuir a sazonalidade do fruto. Atualmente, 80% de toda produção ocorre nos meses de julho a dezembro.

O lançamento ocorreu na sede da Sedap, com a presença dos diversos atores que compõem a cadeia produtiva do açaí, além de autoridades, movimentos sociais e políticos ligados à agricultura.

A Embrapa Amazônia Oriental participou de todas as etapas de elaboração do programa. Foram seis meses de trabalho que reuniram, além da Empresa e Sedap, o Ideflor-Bio, Emater, Cooperativa Mista de Tome-Açu (Camta) e Irrigação Amazônia. Os pesquisadores Alberto William Viana de Castro, Alfredo Kingo Oyama Homma e João Tomé de Farias Neto estão entre os 10 co-autores do Pró-Açaí. 

O programa tem duração inicial de quatro anos e focará os esforços na distribuição de material genético de qualidade e ações de assistência técnica para atingir a meta de expansão de 50 mil hectares de área de produção. Luiz Pinto, diretor de Agricultura Familiar da Sedap e organizador do programa, explicou que serão 10 mil hectares para cultivo em área de terra firme, com irrigação, envolvendo mil produtores de pequeno, médio e grande porte de todo Pará. Outros 40 mil ha estão previstos nos municípios do Baixo Tocantins e Marajó, trabalhando com cerca de 10 mil famílias da agricultura familiar em região de várzea, que sairão da condição de extrativistas, com produção média de duas toneladas/ano por ha, para utilização de tecnologias de manejo e de enriquecimento, podendo alcançar até seis toneladas em mesma área e período.

As metas são ousadas e para atingi-las serão necessárias sementes e mudas de qualidade, além da capacitação dos agentes de assistência técnica (ATER), tarefas nas quais a participação da Embrapa é essencial, segundo Luiz Pinto. "Todo material genético será fornecido pela Embrapa, assim como o treinamento dos técnicos de ATER que atuarão junto aos produtores", informou.

Nova BRS de Açaí será a base genética do programa

De acordo com pesquisador João Tomé, que atua na área de melhoramento genético, já foram repassadas à Sedap duas mil sementes do fruto e até o final do primeiro semestre de 2017, período previsto para o lançamento da nova BRS, serão outras oito mil sementes fornecidas para distribuição gratuita aos produtores paraenses cadastrados. "O maior aporte de sementes ocorrerá com o lançamento de uma nova cultivar de açaí pela Embrapa, que tem o nome provisório de BRS Ver-O-peso. Essa semente tem como diferencial maior produtividade, podendo alcançar até 15 toneladas por hectare/ano", garantiu o pesquisador.  

Outra grande vantagem da nova BRS é que ela foi desenvolvida para áreas de terra firme e sua produção com irrigação garante safra o ano inteiro, minimizando um dos maiores problemas da cultura no estado, que a é a sazonalidade. "Atualmente 80% da produção ocorre de julho a dezembro. No restante do ano a oferta da fruta cai drasticamente, impactando em todo cadeia", disse João Tomé.

A presidente do Sindicato de Fruticultura do Estado do Pará, Solange Mota, declarou que o setor produtivo do Pará tem grandes expectativas com o Pró-Açaí, principalmente na garantia do aumento da oferta no fruto no período da entressafra. Para Solange, esse é um dos grandes gargalos do setor, pois a diminuição da safra entre janeiro e julho atinge diretamente as empresas que chegam até as fechar as portas nesse período do ano. "Com a garantia de produto, aumentam os empregos, a renda e os investimentos", analisou.

O ganho econômico, mas também o social são as principais vantagens do programa destacadas pelo secretário de Desenvolvimento Agropecuário e da Pesca, Hildegardo Nunes. Ele acredita que o principal trunfo do programa é a melhoria da qualidade de vida das mais 10 mil famílias de agricultores familiares que serão beneficiadas diretamente, além do impacto em toda cadeia, com aumento de empregos diretos e indiretos. "A cadeia do açaí permite uma rápida incorporação de renda para os produtores familiares, especialmente das comunidades ribeirinhas", declarou o secretário.

Com a expansão da cadeia produtiva, estima-se que o aumento da área em produção em terra firme pode criar de mais três mil empregos diretos e 12 mil indiretos, além de cinco mil ocupações produtivas diretas e de outras 20 mil ao longo de toda a cadeia, com a expansão nas áreas de várzea.

São números promissores e que podem elevar o estado a um novo patamar, o que aumenta a satisfação em fazer parte desse programa, como falou o chefe adjunto de pesquisa e desenvolvimento da Embrapa Amazônia Oriental, Walkymário Lemos.  Ele lembrou que a cultura do açaí é estratégica para áreas de pesquisa e transferência de tecnologia e que todos os esforços serão concentrados, para estabelecer e reforçar parcerias que auxiliem o Pará a alcançar desenvolvimento com sustentabilidade.