O Programa de Extensão Manejo Comunitário de
Quelônios, comumente conhecido na Amazônia como Projeto Pé-de-Pinchá,
é um programa institucional da UFAM que ajuda as populações tradicionais na
conservação de quelônios ameaçados pela caça predatória.
Criado em 1999 na cidade de Terra Santa (Pará), o
Pé-de-pincha se expandiu na Amazônia, e passou a atuar, ao longo de 16 anos de
atividades, em 118 comunidades e 15 municípios do Amazonas e Pará. Ao todo já
foram devolvidos à natureza mais de 3,5 milhões de filhotes de quelônios.
A sensibilização ocorre através de um grande
trabalho de Educação Ambiental com os comunitários, coordenado por professores,
alunos e técnicos da UFAM, em parceria com as prefeituras locais e órgãos
ambientais como o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais
Renováveis (IBAMA); Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade
(ICMBio); Secretaria de Estado de Meio Ambiente, Departamento de Mudanças
Climáticas e Unidades de Conservação(SEMA/DEMUC); e secretarias municipais de
meio ambiente. O Programa é patrocinado pela Petrobras, através de seus
programas socioambientais até 2016, e é coordenado na Ufam pelo professor Paulo
César Machado Andrade, da Faculdade de Ciências Agrárias (FCA).
Quelônios
Pé-de-pincha é um nome alusivo ao formato das
pegadas do Tracajá (Podocnemis unifilis) na areia, parecidas com
tampinhas de refrigerante (Pés de pincha). Essa foi a primeira espécie a ser
protegida pelo Programa, no lago do Piraruacá, Terra Santa (Pará), em 1999. Em
seguida, mais cinco espécies também passaram a ser protegidas pelo Programa:
Pitiús ou Iaçás (P.sextuberculata), Tartarugas (P.expansa),
Irapucas ou Calalumãs (P.erythrocephala), Cabeçudos (Peltocephalus
dumerilianus), e os Muçuãs (Kinosternon scorpioides).
Etapas
Para obter êxito na preservação desses animais, o
Pé-de-pincha segue uma programação de atividades, divididas em quatro etapas
que acontecem durante todo o ano: Planejamento, Sensibilização e Capacitação
dos Comunitários e dos Voluntários da UFAM (abril e junho); Monitoramento e
Proteção dos Ninhos ou Coleta (agosto e outubro); Nascimento dos Filhotes ou
Eclosão (novembro e dezembro); Soltura dos Filhotes (fevereiro e março Monitoramento
e Proteção dos Ninhos ou Coleta.
No período de julho a setembro, ocorre na UFAM a
divulgação do Programa, através de reuniões e palestras semanais para alunos,
técnicos e professores, interessados em serem voluntários do projeto. Eles
também recebem treinamento para atuarem auxiliando os comunitários na proteção
de ninhos e filhotes de quelônios, e na realização dos registros dos
dados do trabalho de monitoramento comunitário.
Cada etapa gera um relatório final, que depois é
apresentado e entregue para as Secretarias Municipais de Meio Ambiente e
Prefeituras, e órgãos ambientais (IBAMA, ICMBio e SEMA), fechando, assim, a
execução anual das atividades do Projeto.
Educação Ambiental e geração de renda
Uma ferramenta pedagógica estratégica para o
sucesso do manejo sustentável dos quelônios com os comunitários é a Educação
Ambiental. O objetivo é capacitar os professores das escolas rurais (ensino
fundamental e médio) para que eles consigam conscientizar seus alunos e até
mesmo a própria comunidade sobre a importância de conservar a natureza, em
especial os quelônios.
Pesquisadores do Instituto de Ciências Biológicas
(ICB), da Faculdade de Educação (Faced) e Técnicos Educadores Ambientais
coordenam o Núcleo de Educação Ambiental do Pé-de-pincha. “Eles seguem duas
linhas básicas: a de sensibilização dos professores e comunitários e a da
conscientização das crianças em idade escolar”, explica o professor Paulo César.
Também são oferecidos aos comunitários os cursos de
Agente Ambiental Voluntário, e Técnicas de Conservação e Manejo de Quelônios,
além de outros cursos que dão alternativas para geração de renda na comunidade
(Criação Caipira de Galinhas, Hortas Comunitárias, Criação de Abelhas Nativas,
Criação de Animais Silvestres, Tecnologia do Pescado e Plantas Medicinais). Os
cursos são ministrados pela Faculdade de Ciências Agrárias (FCA), ICB, e de
outras instituições como o INPA, a EMBRAPA e a Universidade do Estado do
Amazonas (UEA).
Atividades científicas
Do lado das seis espécies estudadas pelo Projeto,
além da análise dos dados de monitoramento da produção de quelônios, por 16
anos, em cada uma das 118 localidades atingidas, o Pé-de-pincha também realiza,
desde 2004, pesquisas sobre a estrutura e a dinâmica das populações desses
animais em alguns municípios, através da captura, marcação e biometria dos
adultos, jovens e filhotes. “Com isso foi possível estimar a abundância dos
estoques populacionais, a estrutura de tamanho e faixa etária, a razão sexual
em cada área, bem como a elaboração de tabelas de vida e estimadas as taxas de
sobrevivência e crescimento dos quelônios”, elenca o Coordenador do Projeto”.
Através da marcação na carapaça de mais de 200 mil
filhotes, e da aplicação de microchips transponders em 25 mil, foi
possível determinar a taxa média de sobrevivência dos filhotes manejados (18%
contra 15% dos que não recebem o mesmo manejo do Pé-de-pincha). Isso também
permitiu avaliar o crescimento dos filhotes e determinar as curvas de crescimento
e a movimentação desses animais.
Outro estudo realizado é do rastreamento em tempo
real, via satélite, de 24 animais adultos (12 tartarugas e 12 tracajás) com o
uso de radiotransmissores, o que permitiu observar a movimentação destes
animais entre os anos de 2010 e 2015, verificando quais os ambientes mais
visitados, quais as distâncias percorridas e qual sua área de vida.
Além desses estudos, têm sido desenvolvidos outros
sobre fisiologia e bioquímica com filhotes e adultos de quelônios, e também da
variabilidade genética desses animais através dos laboratórios da UFAM em
parceria com a UEA.
Experiência para os acadêmicos
As atividades científicas desenvolvidas dentro do
Projeto Pé-de-pincha são uma grande oportunidade de aprendizado acadêmico para
os estudantes das mais diversas áreas do conhecimento. A recém-formada em
Zootecnia pela Ufam, Liriann Chrisley Nascimento da Silva, 24, guarda boas
lembranças dos seus cinco anos como voluntária do Projeto.
O primeiro convite veio através de um cartaz do
Pé-de-pincha fixado em um dos blocos da FCA, convidando voluntários a
participarem do Projeto. Após ouvir boas histórias de colegas que já haviam
participado, Liriann viu no Pé-de-pincha uma oportunidade de crescimento
pessoal e acadêmico. “Passei a participar dos treinamentos que capacitam os
alunos antes de irem para campo e em outubro de 2010 fiz minha primeira viagem
pelo Projeto”.
As principais atividades da voluntária durante os
cinco anos de Pé-de-pincha foram de acompanhamento técnico nas comunidades de
alguns municípios. “Conheci 11 dos 18 municípios que o Projeto abrange
atualmente. Cada lugar pelo qual passei se tornou especial. Todos me marcaram
de alguma forma, cada um tem um detalhe peculiar, diferente, uma
experiência nova”, lembra Liriann.
Dos 11 municípios, Barreirinha (distante cerca de
330 quilômetros de Manaus) foi a cidade onde a Zootecnista mais teve
experiências cientificas, culturais e sociais. Nas comunidades ela passou a
acompanhar outras espécies de quelônios em cativeiro, onde mais tarde se
aprofundou em estudar uma delas, conhecida regionalmente como Muçuã (Kinosternon
scorpioides). Essa espécie rendeu uma monografia, onde Liriann apresenta um
estudo sobre criação comunitária de Muçuã no Amazonas.
“Esse estudo além de contribuir com a conservação
da espécie, pode facilitar o seu consumo de forma legal, gerando renda na comunidade.
No Pará e no Nordeste, o Muçuã faz parte do hábito alimentar dessas populações.
Logo a criação em cativeiro no Amazonas seria muito propícia, oferecendo,
assim, aos criadores, um sistema de produção racional para melhor
aproveitamento possível dessa espécie em cativeiro”, resume Liriann.
Pé-de-pincha na Ufam
O Programa de Extensão Manejo Comunitário de
Quelônios está localizado no Bloco Z, Laboratório de Animais Silvestres, setor
sul do Campus Universitário Senador Arthur Virgílio Filho. E-mails: pedepincha@gmail.com
/ pcmandra@yahoo.com.br
(Professor Paulo César, coordenador geral). Saiba mais sobre o Projeto em um
documentário no Youtube.
Com informações do Portal da Ufam