Realizada na quarta-feira, 16 de agosto, a
aula inaugural dos Programas de Pós-Graduação da Universidade Federal
do Amazonas (Ufam) destacou a relação entre os avanços científicos e a
produção contínua de inovação tecnológica, com destaque para o conceito
de universidade empreendedora. A exposição ficou sob a responsabilidade
do professor Fernando de Queiroz, da Faculdade de Medicina da
Universidade de São Paulo de Ribeirão Preto (FMRP/USP).
Professor Fernando de Queiroz apresentou modelo aberto de inovação que agrega universidade e setor produtivo
O pesquisador, graduado em Ciências
Biológicas, com mestrado em Fisiologia e Farmacologia e doutorado em
Farmacologia, declarou: "Não abram mão de fazer ciência. Eu acredito que
podemos ter uma relação saudável com o setor produtivo, mas mantendo
nosso papel". Historicamente, a universidades tinham a função de
conservar o conhecimento e formar recursos humanos. Em seguida,
firmaram-se como lugar de pesquisa; e, hoje, sua função é experimentar a
partir da produção contínua de inovação que transfere para a sociedade.
“Ela não substitui a indústria e o setor produtivo, mas inova pela
ciência”, afirmou.
De acordo com a pró-reitora de Pesquisa e
Pós-Graduação, professora Selma Baçal, a instituição tem buscado mais
enfoque no desenvolvimento de processos e produtos que visem à inovação
tecnológica. “A Ufam vem crescendo em demandas nesse segmento, nas
variadas áreas do conhecimento. Ou seja, muitos pós-graduandos estão
começando a trabalhar com a perspectiva de construir trabalhos com foco
em inovação tecnológica. Por esses motivos, consideramos a pertinência
dessa temática”, ressaltou a gestora da Propesp.
Pesquisa & Desenvolvimento
Segundo o palestrante, é preciso associar
duas figuras que antes eram separadas: a do cientista e a do inventor.
“Enquanto o primeiro usa o método científico de observação e
experimentação, o segundo realiza pesquisa de utilidade prática.
Enquanto o conhecimento científico é um bem social internacional; o
trabalho do inventor tem a função de gerar patente e permitir a
exploração econômica”, explicou o professor Queiroz, para quem, desde o
século XX, o alto valor agregado de desenvolvimento tecnológico passou a
depender ainda mais do desenvolvimento científico. “Hoje, grandes
descobertas são impossíveis sem ciência”, frisou.
A interligação entre ciência e tecnologia
permitiu a criação de centros de pesquisa básica por grandes empresas.
“No entanto, como os antigos modelos de inovação eram fechados e geravam
altos custos para o setor produtivo”. Diante disso, a Universidade
assumiu o papel de produtora de conhecimento científico relevante para
gerar tecnologia inovadora. Ou seja, instaurou-se o modelo ‘Open Inovation’, por meio do qual foram intensificadas as conversas entre laboratórios industriais e os laboratórios acadêmicos.
Discentes e docentes dos PPGs da Ufam assistiram à aula
Desafios
A interação entre academia e setor
produtivo, entre pesquisa científica e geração de tecnologia encontra
uma série de desafios, conforme elenca o professor. Os pesquisadores
equilibram-se sobre algumas dicotomias, entre as quais: publicar versus patentear; retorno financeiro versus partilha de resultados; sigilo de informação versus difusão de conhecimento.
No entanto, o binômio
‘universidade-empresa’ traz contribuições para ambas. De um lado enseja a
melhoria do ensino, a recepção dos desafios trazidos pela sociedade, a
atualização curricular, com inclusão de experiência prática, e o aporte
de recursos para a pesquisa. Do ponto de vista empresarial, permite o
acesso ao conhecimento científico, o estimo a inovação, a identificação
de talentos e a redução de custos e riscos de P&D.
“O modelo de inovação aberto está
relacionado, por exemplo, à pesquisa translacional em Medicina, de
caráter multidisciplinar e com incentivo a projetos colaborativos entre
centros nacionais e internacionais e com a indústria”, exemplificou o
professor Queiroz, para quem o ‘Open Inovation’, especificamente nessa
área, acelera a transferência de conhecimentos da pesquisa básica para a
criação métodos de prevenção, diagnóstico e tratamento de doenças.
Na Ufam
Doutorando em Química, Renan Feitoza
investiga o aproveitamento de resíduo madeireiro voltado ao
desenvolvimento de medicamentos. “Nosso grupo de pesquisa se insere na
cadeia produtiva da madeira certificada, onde recebe esses resíduos que
seriam descartados. Então, estudamos a parte química com o objetivo de
identificar substâncias ativas que tenham propriedades bioativas”,
explicou. Com esse processo, segundo o pesquisador do PPG em Química,
agrega-se valor ao rejeito.
No mestrado, Renan identificou
substâncias com potencial antioxidante, que previnem o envelhecimento
celular e podem estar ligadas a diversos tipos de câncer. “Pesquisar
demanda tempo. Então, ainda estamos em processo de definição por meio de
experimentos, para posterior publicação de uma das substâncias
identificadas na dissertação, que, até o momento, acreditamos ser
inédita”, considerou o pós-graduando.
Por outro lado, a mestranda em Ciências
do Ambiente e Sustentabilidade na Amazônia Elenize Avelino destacou a
importância da multidisciplinaridade como fator fundamental à inovação
na pesquisa realizada nos PPGs da Ufam. “Eu sou economista e estou do
PPGCASA, um programa de vocação multidisciplinar, onde é possível ter
acesso a uma diversidade de temas que nos atualizam como pesquisadores”,
avaliou a discente.