As secas extremas, que ocorreram nos anos de 2005-2010, na
Amazônia, preocupam os cientistas. Elas podem ser ainda mais frequentes e
longas no futuro. Além disso, os modelos climáticos, que permitem avaliar as
mudanças no clima, apontam que por volta de 2050 pode ocorrer uma transição na
vegetação na Amazônia de bosque tropical para savana.
Para o pesquisador do Instituto Geofísico del Perú, Jhan Carlo
Espinoza, estes eventos são resultados da temperatura da região do Atlântico
Tropical Norte, próximo à costa do Brasil até a África. “Quando esta região
está mais quente do que o normal, produz mais precipitações no Atlântico e
reduz as chuvas na Amazônia, causando secas extremas com os níveis dos rios
muito baixos”, explica o pesquisador.
Estes dados foram mostrados pelo pesquisador durante palestra no
workshop internacional, que acontece desde a última segunda-feira (25), no
Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTI). O evento reúne
especialistas de várias partes do mundo na área de hidrologia, climatologia,
dendrocronologia e análises de isótopos na bacia amazônica.
Espinoza falou sobre os mecanismos climáticos que produzem as
secas e as inundações extremas na Amazônia. De acordo com ele, as secas têm
sido intensas nas últimas décadas (2005 e 2010), porém, as inundações passaram
a ser mais frequentes, particularmente, depois dos anos 70.
De acordo com o pesquisador, antes daquele período, as observações
mostram que houveram cinco grandes inundações. Após essa década, os
pesquisadores observaram 18 inundações extremas. “Existe uma intensificação do
ciclo hidrológico na Amazônia, o que está claro para a comunidade científica”,
diz Espinoza.
Ele explica que as inundações são causadas, principalmente, pelo
evento La Nina, mas que não é o
único fator que explica as inundações. “Quando ocorre o fenômeno, existe mais
fluxo de umidade que ingressa na Amazônia, permanecendo nesta região, ocorrendo
precipitações de chuvas. Isto incrementa o nível dos rios, causando
inundações”, explica o pesquisador.
Segundo o pesquisador, existem também condições de temperatura no
Atlântico Tropical Sul que favorecem a ocorrência de mais chuvas na Amazônia.
“O clima da Amazônia está controlado em grande medida com o que ocorre nos
oceanos. Cercada pelo Pacífico, por um lado com o El Nino, mas também com
condições de temperatura no Atlântico”.
As secas também têm o controle em ambas regiões do oceano com
condições de temperatura com o evento do El Nino, no Pacífico Equatorial, o que
produz déficit de precipitações na Amazônia. “Este ano, estamos observando um
evento extremo do El Nino, no Pacífico Central, e está começando um déficit de
precipitações na Amazônia também”.
“É muito importante continuar realizando o monitoramento das
mudanças climáticas na Amazônia. Sem uma observação de boa qualidade é muito
difícil fazer uma pesquisa séria”, ressaltou Espinoza.
O pesquisador da Universidade de Leeds (no Reino Unido), Manuel
Gloor, falou sobre as recentes mudanças no clima da bacia amazônica e o impacto
na floresta. Já o pesquisador do Laboratório de Ciência do Clima e Meio
Ambiente da França, Jonathan Barichivich, falou sobre as perspectivas de longo
prazo no ciclo hidrológico da Amazônia. O pesquisador do Inpa, Jochen
Schongart, abordou sobre os anéis das árvores da região alagadas e central da
Amazônia: o que eles nos falam sobre o crescimento do clima e a relação das
condições climáticas do passado.
Workshop
O workshop internacional prossegue até sexta-feira (29). Nesta
quarta-feira (27), os participantes farão uma excursão de campo nas bases de
pesquisa do Inpa localizadas no rio Tarumã e no Lago do Catalão (Iranduba).
Com
informações da Ascom Inpa