domingo, 4 de outubro de 2015

Wilson Nogueira: Quero ser prefeito de Parintins

Quero ser prefeito de Parintins. Penso nessa possibilidade toda vez que vejo a cidade em que nasci vítima da ineficiência – e também da possível má-fé – dos seus gestores. Não dá para entender os prováveis porquês de a cidade ainda não ter implantado um sistema de coleta e tratamento de lixo ambientalmente correto. O que sê viu nesses últimos anos – e se vê hoje – é a mera retórica política sobre esse tema, enquanto Parintins aparece, cada vez mais, igual a uma lixeira a céu aberto.  

A sujeira generalizada é uma das condições mais vergonhosas que se pode impor aos moradores de uma cidade. Aqui, o problema é tão grave que, em situação “normal”, o lixo é despejado em área saturada para essa finalidade. Lixo é lixo! Faz mal à saúde. Enfeia a cidade. Fede. O que seria de Parintins sem os urubus, essas aves devoradores de bactérias? E ainda houve quem quisesse exterminá-las por envenenamento. Pobre é a cidade que cai nas mãos de gestores inaptos! Assim, toda vez que o lixo retorna à agenda das urgências e emergências públicas – apenas como discussão de momento entre oposição e situação –, sem que se vislumbre qualquer solução de bom senso, sinto vontade de ser prefeito.

A coleta regular e processamento sustentado do lixo é, certamente, um desafio à gestão de qualquer cidade. Em Parintins não poderia ser diferente. Não deve ser fácil encará-lo como política pública, principalmente pelos políticos que negligencia a (res)publica.  Mas não há desordem que não possa ser superada por governantes determinados e honestos em suas ações. Por sinal, gestores públicos com tais qualidades não são raros só por aqui. Daí a persistência de problemas socioambientais crônicos, como o do lixo, que não resistiriam à criatividade, à transparência e à vontade política em favor do bem viver da população.

A solução desse problema não tem fórmula pronta. Exige, sim, disposição para se construir um amplo diálogo com os munícipes por meio das suas instituições, entre as quais, a Câmara de Vereadores, as associações de moradores, os sindicatos de trabalhadores, as igrejas, as cooperativas, as escolas e as universidades. Parintins possui massa crítica e criativa para colaborar com a administração pública, desde que seus gestores não se fechem em suas arrogâncias. Aliás, a soberba, a mesquinhez da política rasteira e a ganância de pessoas e de grupos têm desdenhado da capacidade dos parintinenses para inovar e vencer desafios. Caso não fossem capazes de lidar com atividades complexas, os bois-bumbás de Parintins não teriam se transformado nesse espetáculo midiático que se inscreve entre os mais arrojados do Brasil.

A essa altura, o leitor atento já deve ter perguntado: e por que essas capacidades não irrigam a política com soluções inovadoras? Ora, porque os partidos políticos, as vias de acesso ao jogo da escolha por eleição direta, estão amarrados às velhas estruturas oligárquicas e antidemocráticas do País. E os donos desses partidos, no geral, negam uma reforma política de verdade. Eles preferem manter esse círculo vicioso do poder pelo poder, prática que exclui as novas ideias e torna a política partidária necrosada.

A questão do lixo é a que mais me incomoda e mais me envergonha, mas não é a única. É só observar o que diz a mídia local para constatar que Parintins hoje é uma cidade insegura e sem outros serviços públicos básicos (há carência de hospitais, profissionais da saúde e equipamentos médicos, por exemplo) que façam jus à sua localização estratégica e visibilidade social. A coleta e o destino sustentável do lixo, por meio de tecnologias já disponíveis no mercado, deve ser a prioridade de qualquer governante que, para além das suas vaidades pessoais, se proponha a cuidar de forma zelosa e responsável do lugar onde mora. 

Quero ser prefeito, assim como devem querer outros conterrâneos que se sentem indignados com os maus-tratos cometidos contra Parintins por sucessivas gestões que, ao que parece, transformaram um problema tão perigoso para a vida da população em prováveis negócios escusos, e também em oportunismo eleitoral. Quero ser prefeito para descobrir os segredos que tornam a nossa cidade refém da resistível ascensão das agressões à sensatez.

Quero ser prefeito... e pronto!

Nem partidos nem políticos me impedirão de sonhar.

Votem em mim!

* O autor é doutor em Processos Socioculturais na Amazônia, pelo PPGSCA/Ufam, e pós-doutorando do Programa em Ciências da Comunicação da Ufam.
Artigo originalmente publicado em www.deamazonia.com.br 

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