Há muito tempo, é possível observar o descompasso entre a teoria e a prática no
enfrentamento aos problemas ambientais no discurso artístico cultural da região
amazônica dos bois de Parintins, contextualizado no enredo temático, letra e
música, alegorias, rituais e discurso do apresentador e amo do boi Caprichoso e
Garantido.
As
questões ambientais tem proporcionado inúmeros debates na perspectiva
ambiental, social, econômico, político e cultural nos últimos anos no Brasil e
no Mundo. Em Parintins não tem sido diferente, pois enfrenta problemas
principalmente com os resíduos sólidos, lixão a céu aberto, denominado de
aterro controlado. O festival Folclórico de Parintins, há 15 anos atrás, tornou-se
uma vitrine do marketing empresarial e pessoal capitaneado pelo discurso em
defesa da Amazônia. Nos últimos anos
sistematicamente os bois apresentam como tema a Amazônia, defendendo a
preservação e desenvolvimento sustentável, cantando e decantando sua
biodiversidade e sociodiversidade.
Porém, no bojo da responsabilidade ambiental, as empresas buscam vincular
sua marca ao espetáculo, como um produto da indústria cultural sustentável,
considerando-se as exigências da qualidade ambiental ISO 14000, a Agenda 21
Global e as inúmeras conferências nacionais e internacionais que abordam as
questões relativas aos problemas ambientais mirada para o desenvolvimento
ecologicamente sustentável ao uso dos recursos naturais.
Marcas famosas financiam o grandioso espetáculo, para citar algumas: Cola
Cola, Bradesco, Petrobras, Vivo, Sky, Natura, que se beneficiam das leis de
incentivo da Zona Franca de Manaus e Lei Rouanet de incentivo à cultura, no
bojo da responsabilidade ambiental e sustentabilidade.
Entretanto, é notório descrever que antes, durante e pós-Festival Folclórico
de Parintins, as preocupações dos bois Caprichoso e Garantido e dos governos,
ficam tão somente no papel. Episódio recente, envolvendo um artista/cantor do
boi Caprichoso, que foi multado pelo Ibama, por apologia ao consumo de carne de
animais silvestres, ganhou destaque na imprensa amazonense e redes sociais.
Essas postagens deram visibilidade a essa realidade.
A cada ano, o custo de produção do festival folclórico de
Parintins, recebe valores exorbitantes. Somas volumosas de recursos público e
privado são destinados aos bois, destoando com as preocupações ambientais e
sustentabilidade que propõem a redução na produção e consumo de produtos não
recicláveis e de custos. Somam-se ainda, a quantidade de ferragens das
alegorias e sobra de isopor (os mais visíveis) que não são reutilizados,
contribuindo para aumentar o grave problema de destinação e acumulo dos
resíduos sólidos que enfrenta o município.
As associações folclóricas não conseguem colocar em prática aquilo que
apresentam no Bumbódromo como proposta em defesa do meio ambiente,
desenvolvimento sustentável. No entorno do galpão de produção de
alegorias do boi Caprichoso, é visível os entulhos não reutilizados. Os bois
também não adotam programas de coleta seletiva de resíduos sólidos.
O município de Parintins, possui um excelente marco legal no
que se refere a legislação ambiental e de desenvolvimento sustentável, faltando
sair do papel para a prática. É dever dos entes institucionais público, privado
e atores sociais enfrentar os problemas ambientais que afeta a todos.
A Prefeitura cabe o papel principal de articulador e aglutinador com
envolvimento do Ministério Público, universidades, empresas e as associações
folclóricas. É necessário ainda firmar parcerias para incentivar adoção de
programas de educação ambiental, gestão, coleta seletiva e reaproveitamento de
resíduos sólidos, voltados para minimizar os impactos ambientais, o que também
não é feito e não há estimativa nenhuma de acontecer a curto prazo.
A Secretaria de turismo e meio ambiente devem conjuntamente realizar estudos
de impacto ambiental na realização dos grandes eventos no município. E atentar
criteriosamente para a exigência de licenciamento ambiental para se estudar
futuros impactos causados.
Proponho, sobretudo, que os representantes de Garantido e Caprichoso
deveriam participar como membro efetivo do Conselho Municipal de Meio Ambiente,
Desenvolvimento e Controle Ambiental de Parintins.
É premente, que as associações Garantido e Caprichoso também reformulem seus
estatutos para inserir a responsabilidade socioambiental, ecológica, cultural,
econômica, administrativa, territorial e política observando-se o compromisso
com desenvolvimento ecologicamente sustentável do festival. De igual modo,
terão, ainda, que implantar/criar um núcleo de gestão, educação ambiental e
sustentabilidade, buscando o cumprimento e adequação as leis ambientais
brasileiras e práticas sustentáveis na produção do boi de arena e do Festival
Folclórico de Parintins.
Josenildo Santos de Souza, é filósofo, especialista em
Ética, Mestre em Estudos Amazônicos pela Universidad Nacional de Colômbia -
UNAL, com ênfase em Desenvolvimento Regional e professor da Ufam.
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