sábado, 31 de outubro de 2015

O descompasso na toada de boi-bumbá no Festival Folclórico de Parintins e o meio ambiente



Há muito tempo, é possível observar o descompasso entre a teoria e a prática no enfrentamento aos problemas ambientais no discurso artístico cultural da região amazônica dos bois de Parintins, contextualizado no enredo temático, letra e música, alegorias, rituais e discurso do apresentador e amo do boi Caprichoso e Garantido.

As questões ambientais tem proporcionado inúmeros debates na perspectiva ambiental, social, econômico, político e cultural nos últimos anos no Brasil e no Mundo. Em Parintins não tem sido diferente, pois enfrenta problemas principalmente com os resíduos sólidos, lixão a céu aberto, denominado de aterro controlado. O festival Folclórico de Parintins, há 15 anos atrás, tornou-se uma vitrine do marketing empresarial e pessoal capitaneado pelo discurso em defesa da Amazônia.  Nos últimos anos sistematicamente os bois apresentam como tema a Amazônia, defendendo a preservação e desenvolvimento sustentável, cantando e decantando sua biodiversidade e sociodiversidade.

Porém, no bojo da responsabilidade ambiental, as empresas buscam vincular sua marca ao espetáculo, como um produto da indústria cultural sustentável, considerando-se as exigências da qualidade ambiental ISO 14000, a Agenda 21 Global e as inúmeras conferências nacionais e internacionais que abordam as questões relativas aos problemas ambientais mirada para o desenvolvimento ecologicamente sustentável ao uso dos recursos naturais.

Marcas famosas financiam o grandioso espetáculo, para citar algumas: Cola Cola, Bradesco, Petrobras, Vivo, Sky, Natura, que se beneficiam das leis de incentivo da Zona Franca de Manaus e Lei Rouanet de incentivo à cultura, no bojo da responsabilidade ambiental e sustentabilidade.

Entretanto, é notório descrever que antes, durante e pós-Festival Folclórico de Parintins, as preocupações dos bois Caprichoso e Garantido e dos governos, ficam tão somente no papel. Episódio recente, envolvendo um artista/cantor do boi Caprichoso, que foi multado pelo Ibama, por apologia ao consumo de carne de animais silvestres, ganhou destaque na imprensa amazonense e redes sociais. Essas postagens deram visibilidade a essa realidade.

A cada ano, o custo de produção do festival folclórico de Parintins, recebe valores exorbitantes. Somas volumosas de recursos público e privado são destinados aos bois, destoando com as preocupações ambientais e sustentabilidade que propõem a redução na produção e consumo de produtos não recicláveis e de custos. Somam-se ainda, a quantidade de ferragens das alegorias e sobra de isopor (os mais visíveis) que não são reutilizados, contribuindo para aumentar o grave problema de destinação e acumulo dos resíduos sólidos que enfrenta o município.  

As associações folclóricas não conseguem colocar em prática aquilo que apresentam no Bumbódromo como proposta em defesa do meio ambiente, desenvolvimento sustentável.  No entorno do galpão de produção de alegorias do boi Caprichoso, é visível os entulhos não reutilizados. Os bois também não adotam programas de coleta seletiva de resíduos sólidos. 

O município de Parintins, possui um excelente marco legal no que se refere a legislação ambiental e de desenvolvimento sustentável, faltando sair do papel para a prática. É dever dos entes institucionais público, privado e atores sociais enfrentar os problemas ambientais que afeta a todos.  

A Prefeitura cabe o papel principal de articulador e aglutinador com envolvimento do Ministério Público, universidades, empresas e as associações folclóricas. É necessário ainda firmar parcerias para incentivar adoção de programas de educação ambiental, gestão, coleta seletiva e reaproveitamento de resíduos sólidos, voltados para minimizar os impactos ambientais, o que também não é feito e não há estimativa nenhuma de acontecer a curto prazo.

A Secretaria de turismo e meio ambiente devem conjuntamente realizar estudos de impacto ambiental na realização dos grandes eventos no município. E atentar criteriosamente para a exigência de licenciamento ambiental para se estudar futuros impactos causados.

Proponho, sobretudo, que os representantes de Garantido e Caprichoso deveriam participar como membro efetivo do Conselho Municipal de Meio Ambiente, Desenvolvimento e Controle Ambiental de Parintins.  

É premente, que as associações Garantido e Caprichoso também reformulem seus estatutos para inserir a responsabilidade socioambiental, ecológica, cultural, econômica, administrativa, territorial e política observando-se o compromisso com desenvolvimento ecologicamente sustentável do festival. De igual modo, terão, ainda, que implantar/criar um núcleo de gestão, educação ambiental e sustentabilidade, buscando o cumprimento e adequação as leis ambientais brasileiras e práticas sustentáveis na produção do boi de arena e do Festival Folclórico de Parintins.

Josenildo Santos de Souza, é filósofo, especialista em Ética, Mestre em Estudos Amazônicos pela Universidad Nacional de Colômbia - UNAL, com ênfase em Desenvolvimento Regional e professor da Ufam.

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