segunda-feira, 12 de outubro de 2015

Brasil chega a 3 mil salas de cinema

Brasil chega a 3 mil salas de cinema: sem apoio a cineclubes, o que cresceu foi o número de shopping centers

Após sete anos seguidos de crescimento de bilheterias e investimentos, o mercado cinematográfico brasileiro vai atingir a marca de 3 mil salas de exibição ainda no mês de outubro, afirmou o diretor-presidente da Agência Nacional do Cinema (Ancine), Manoel Rangel, em entrevista para a Agência Brasil. Na era de ouro do cinema brasileiro, na década de 1970, o país já chegou a ter 3,5 mil salas.

“É uma franca recuperação”, disse Rangel, que apontou diferenças entre o parque exibidor atual e o da época. “As salas de cinema daquele período eram pouco confortáveis, com cadeiras duras e uma série de fatores muito distantes do que é o parque exibidor atual. Hoje, temos 3 mil salas de cinema, e a maior parte é um parque exibidor moderno, do último tipo”, comparou.

O crescimento do número de salas de cinema ganhou maior velocidade neste ano. Segundo a Ancine, entre 2003 e 2010, o Brasil ganhava, em média, 71 salas de cinema por ano. A média subiu para 153 entre 2011 e 2014, e, em 2015, já são 183 salas construídas até setembro – a maioria no Sudeste. 

Vale a pena desconstruir o discurso ufanista oficial para se chegar à verdade. Apesar de alardeada, a quantidade de 3 mil salas ainda é um número irrisório, facilmente monopolizado por poucos filmes no Brasil. Diversos lançamentos de 2015 foram distribuídos em mais de mil salas (um terço do atual circuito) e, seguindo a tradição registrada nos últimos anos, o vindouro “Jogos Vorazes: A Esperança – O Final” deve ocupar metade de todo o parque cinematográfico nacional num único fim de semana, em novembro, exibindo uma maioria de cópias dubladas, como na televisão. 

O aumento de salas não acompanha uma política de investimento em cineclubes, cinemas de rua ou expansão do chamado circuito limitado. Pior: os poucos programas que existiam de apoio ao cineclubismo foram descontinuados. 

Gleciara Ramos, secretária-geral do Conselho Nacional de Cineclubes, denunciou em entrevista recente ao portal G1: “Apesar de haver um gargalo na exibição no país e de a gente saber da importância do cinema e da educação, não há atitudes por parte do governo de dar legitimidade ao cineclubismo, que é tratado de maneira muito periférica”.

A política cultural do atual governo celebra o capitalismo em sua forma mais primitiva, de consumismo sem critério – a mesma matriz do programa econômico que jogou o país na crise. Na prática, o que a Ancine escolhe destacar é a construção de novos shopping centers. Com inauguração de 26 novos empreendimentos do gênero no Brasil em 2015, além de previsão para o início de mais 34 obras, o que não faltam são multiplexes com salas “do último tipo”, como Rangel parece gostar. 
pipocamoderna.com.br

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