Análise da CGU apontou ilegalidades no
repasse de recursos da União ao Instituto Novos Caminhos, investigado na
operação Maus Caminhos
Foto: ©iStockphoto.com
O Ministério Público Federal no Amazonas (MPF/AM) enviou
representação ao Tribunal de Contas do Estado do Amazonas (TCE/AM) e à
Assembleia Legislativa do Estado do Amazonas (ALE/AM) para requerer
apuração de ilegalidades na gestão de recursos da saúde por parte do
Governo do Estado do Amazonas. Os ofícios foram encaminhados pelo MPF/AM
ao presidente do TCE, Ari Moutinho Filho, e ao presidente da ALE, Josué
Neto.
As ilegalidades foram identificadas a partir de análise da
Controladoria-Geral da União (CGU), que avaliou a forma de transferência
de recursos federais, por parte do Governo do Estado do Amazonas, ao
Instituto Novos Caminhos, investigado na operação Maus Caminhos.
A nota técnica da CGU analisou os valores repassados pela União, por
meio do Fundo Nacional de Saúde, para o Fundo Estadual de Saúde, de 2014
a outubro de 2016, e apontou a existência de ativos ocultos nos
relatórios de caixa do Governo, com movimentação de contas bancárias não
registradas, e utilização de contas de passagem, que alteraram
indevidamente a fonte dos recursos repassados ao Instituto Novos
Caminhos.
De acordo com a CGU, valores oriundos do Fundo Nacional de Saúde
foram transferidos para contas-correntes cuja fonte é descrita na
contabilidade do Governo do Estado como 'Recursos do Tesouro',
misturando recursos federais com recursos ordinários do Estado,
possibilitando a realização de pagamentos com recursos da União,
assumindo uma 'roupagem' de recursos estaduais.
Nos ofícios enviados aos presidentes do TCE e da ALE, o MPF destaca
que a utilização de contas de passagem contraria o disposto no Decreto
nº 7.507/11, que indica que a movimentação dos recursos da União deve
ser realizada exclusivamente por meio eletrônico, mediante crédito em
conta-corrente de titularidade dos fornecedores e prestadores de
serviços devidamente identificados.
O MPF tem promovido diversas atuações nos últimos anos para impedir a
utilização de contas de passagem na gestão de recursos públicos
federais. No Amazonas, diversos prefeitos e ex-prefeitos do interior do
Estado já foram processados pela prática ilegal. Para combater a prática
de forma sistemática, o órgão obteve na Justiça Federal, em maio de
2015, decisão favorável em ação civil pública que obrigou o Banco do
Brasil e a Caixa Econômica Federal a proibirem transferências diretas de
valores e saques em espécie das contas criadas especificamente para que
os municípios e estados recebam recursos públicos provenientes de
convênios federais.
Em agosto deste ano, o MPF firmou acordo com o Banco do Brasil em que
a instituição bancária se comprometeu a impedir a realização dos
chamados saques ‘na boca do caixa’ de contas específicas para receber
repasses de convênios federais e a acabar com a remessa de valores para
outras contas de titularidade do estado do Amazonas e de seus municípios
ou para destinatários não identificados. O acordo pôs fim à tramitação
da ação judicial em relação ao Banco do Brasil.
Irregularidades na gestão de unidades de saúde – A
operação Maus Caminhos foi deflagrada em setembro deste ano e
desarticulou um grupo responsável pela gestão de três unidades de saúde
no Amazonas. Os fatos que deram origem à investigação policial foram
apurados a partir de provocação do Ministério Público Federal que, após
responsabilizar na Justiça o ex-secretário de Estado da Saúde Wilson
Duarte Alecrim, servidores e a direção do Hospital Santa Júlia Ltda.
também por irregularidades em contratos na saúde pública estadual, pediu
à CGU apurações mais amplas sobre a aplicação de recursos pela
Secretaria de Estado da Saúde do Amazonas (Susam).
A organização criminosa investigada utilizava uma entidade social sem
em fins lucrativos, o Instituto Novos Caminhos, contratado pelo Governo
do Amazonas sem licitação para gerir unidades de saúde, e contratava
outras empresas prestadoras de serviços de saúde por valores muito
superiores aos do mercado, existindo ainda casos de pagamentos em
duplicidade e serviços pagos que não foram prestados. Até o momento, o
montante desviado ilegalmente supera R$ 112 milhões.
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