A expansão do
número de doutores na região Norte está ameaçada por causa dos cortes
feitos pelo governo federal na educação. O alerta foi feito pela
professora Vera Lúcia Jacob Chaves, vice-presidente Norte da Associação
Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação (ANPEd), durante a 1ª
Reunião Científica da Região Norte da ANPEd, na semana passada, na
Universidade Federal do Pará (UFPA).
“Esse evento é um marco em nossa região. É o primeiro na região
Norte. E tem como finalidade fundamental fortalecer os programas de
pós-graduação em educação da região Norte”, disse ela, sobre o encontro,
cujo tema foi “Políticas Públicas e Formação Humana: desafios para a
educação na Pan-Amazônia”, realização do Programa de Pós-Graduação em
Educação (PPGE) da UFPA, em parceria com a ANPEd e o Fórum Nacional de
Coordenadores de Programas de Pós-Graduação em Educação da ANPEd
(Forpred) da Região Norte.
“São professores, pesquisadores, doutores daqui da região Norte.
Temos 12 programas de pós-graduação em educação na região. Desses, cinco
só no Estado do Pará, que é o pioneiro. Na UFPA, temos três e um em
Santarém. O outro é da Universidade do Estado do Pará (Uepa). É o
momento em que todos os estudantes de mestrado, doutorado e
pesquisadores estão aqui socializando o conhecimento produzido e
lançando livros”, acrescentou.
Vera Jacob disse que os problemas educacionais na região Norte são
“gravíssimos”. Segundo ela, região tem os piores índices educacionais do
país e os 12 programas de pós-graduação na região são insuficientes.
“Esse número é pequeno, pois temos mais de 150 programas no país. A
região Norte hoje está com 12. Mas, até quatro anos atrás, só tínhamos
três (na Federal do Amazonas, na Federal do Pará e na Uepa). Houve uma
expansão significativa, daí porque estamos tendo a primeira reunião
aqui”. Ela disse que há uma “assimetria regional” no País, tanto no
aspecto econômico quanto na produção do conhecimento. “Você tem o maior
número de doutores do país na região Sudeste. E, portanto, você tem a
maior quantidade de pesquisadores e de programas de pós-graduação na
região onde tem o maior número de doutores”, afirmou.
Ainda conforme a professora, “não houve efetivamente uma preocupação
dos governos brasileiros em capitalizar a produção do conhecimento e
formar pesquisadores na região. Na educação, é recente esse número. De
quatro anos para cá conseguimos aprovar, porque não tínhamos doutores na
região. Isso mostra que agora já temos um quadro de doutores”. Vera
Jacob afirmou que só há dois programas de doutorado em toda a região
Norte. “Um aqui, na UFPA, e outro na Federal do Amazonas. E em toda as
regiões Norte e Nordeste só temos um programa de pós-graduação em
educação com nota 5 da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de
Nível Superior (Capes). Há, ainda, um preconceito muito grande no nosso
País em relação à produção do conhecimento nas regiões Norte e
Nordeste”, disse.
Ela observou que ter os piores índices educacionais do País também
tem reflexo na produção de conhecimento, na formação de pesquisadores,
nos cursos e no financiamento. “Quando você atribui nota 5, você tem um
recurso maior para aquele programa. Quando você atribui nota 4 e 3, você
tem menos recursos”, explicou.
E acrescentou: “Atualmente, há um número significativo de doutores em
nossa região e a tendência era isso se expandir. Mas estamos aqui nesse
evento com muita preocupação, porque foram anunciados diversos cortes. O
CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico),
nessa reunião que teve essa semana, anunciou mais 30% de corte. A
própria Fapespa (Fundação Amazônia de Amparo a Estudos e Pesquisas)
esteve aqui dizendo que tem R$ 7 milhões para investir em pesquisa no
Pará, mas não pode liberar porque o governo federal não libera a
contrapartida dele. Estamos vivendo um momento extremamente grave no
Brasil. Neste momento, estamos preocupados em como manter, diante dos
cortes, essa expansão que tivemos. Porque veja bem: desde 2015, não
temos recurso nenhum para a capital. Como você vai fazer pesquisar se
não pode comprar um computador? Se não pode comprar um equipamento para
desenvolver pesquisa? Os editais de fomento foram todos suspensos”,
afirmou.
Fonte: O Liberal
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