A Ufopa, promoveu no último dia 13 de
fevereiro, o lançamento do livro “Pajés, benzedores, puxadores e
parteiras: os imprescindíveis sacerdotes do povo na Amazônia”. Fruto do
projeto de extensão A Hora do Xibé, vinculado ao Programa de Extensão
Patrimônio Cultural na Amazônia (PEPCA), a obra foi organizada pelo
professor Florêncio Almeida Vaz e reúne relatos desses agentes da
medicina tradicional da região.
Os depoimentos foram coletados ao longo de dois anos
por bolsistas e voluntários do projeto em aldeias e comunidades do
interior da região e divulgados no programa “A Hora do Xibé”, que vai ao
ar todas as segundas, quartas e sextas-feiras na Rádio Rural de
Santarém. “É uma obra coletiva. Por conta do programa, coletamos muitos
relatos de moradores do interior, indígenas, quilombolas e ribeirinhos.
Esses relatos falam muito de pajés, de benzedores, de puxadores, como
sendo pessoas muito importantes para a vida nessas comunidades. Eles têm
muita sabedoria, muita coisa para ser documentada e publicada”, destaca
Florêncio.
O livro busca dar voz a homens e mulheres humildes,
que falam de suas crenças, ofício e preconceitos. Com linguagem
acessível, introduz o leitor à reflexão antropológica sobre o xamanismo
amazônico. “Se essas pessoas fossem insignificantes, já teriam
desaparecido. Mas não desaparecem. São profissionais imprescindíveis,
pena que são invisibilizados. Há muito preconceito com relação a eles em
nossa sociedade, o que contribui para que sejam discriminados. Nosso
livro vem na contramão, para mostrar que eles têm muito valor. É para
isso que existe a Universidade, para produzir conhecimento com base
realista, não reforçando preconceitos e discriminações, mas para mostrar
as pessoas, os grupos, as culturas, naquilo que elas têm”, enfatiza o
organizador da obra.
Fabiana de Almeida Costa é descendente do povo
indígena Borari. Herdou os ofícios de parteira e pajé da mãe, a cacique
da aldeia Curucuruí, dona Maria Santana. “Minha mãe foi parteira e pajé
por mais de 40 anos, mas antes dela veio minha bisavó, Joana, que também
já era dessa linhagem. As histórias que a gente traz na família são a
mesma coisa que a gente vai viver futuramente”, acredita a moça.
Uma das coautoras do livro, Fabiana explica que a
obra retrata muito do cotidiano nas aldeias. “Principalmente o respeito
que existe entre homem e natureza. Por exemplo, todo igarapé tem um
encantado, tem uma família encantada que mora lá, então temos que
respeitar porque lá é a morada deles. Quando chegamos nesses lugares,
temos que pedir licença. É a mesma coisa se eu fosse na sua casa e não
respeitasse sua morada”, explica.
Além do depoimento de Fabiana, a publicação também
conta com o relato da mãe dela, dona Maria Santana, pajé da região do
rio Arapiuns que faleceu recentemente, e de outros pajés de aldeias do
Oeste paraense, como, por exemplo, pajé Laurelino, do Tapajós; pajé
Pedrinho, de Curuá; e Paulinho Borari, que é pajé e estudante do curso
de Antropologia na Ufopa. A obra recém-lançada é uma sequência do
primeiro livro do projeto “Isso tudo é encantado” (2014), que mostra a
cosmologia dos indígenas e ribeirinhos da região do Oeste do Pará.
Ascom Ufopa
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