domingo, 19 de fevereiro de 2017

Lançada obra que reúne relatos de pajés, benzedores, puxadores e parteiras da Amazônia

A Ufopa, promoveu no último dia 13 de fevereiro, o lançamento do livro “Pajés, benzedores, puxadores e parteiras: os imprescindíveis sacerdotes do povo na Amazônia”. Fruto do projeto de extensão A Hora do Xibé, vinculado ao Programa de Extensão Patrimônio Cultural na Amazônia (PEPCA), a obra foi organizada pelo professor Florêncio Almeida Vaz e reúne relatos desses agentes da medicina tradicional da região.

Os depoimentos foram coletados ao longo de dois anos por bolsistas e voluntários do projeto em aldeias e comunidades do interior da região e divulgados no programa “A Hora do Xibé”, que vai ao ar todas as segundas, quartas e sextas-feiras na Rádio Rural de Santarém. “É uma obra coletiva. Por conta do programa, coletamos muitos relatos de moradores do interior, indígenas, quilombolas e ribeirinhos. Esses relatos falam muito de pajés, de benzedores, de puxadores, como sendo pessoas muito importantes para a vida nessas comunidades. Eles têm muita sabedoria, muita coisa para ser documentada e publicada”, destaca Florêncio.

O livro busca dar voz a homens e mulheres humildes, que falam de suas crenças, ofício e preconceitos. Com linguagem acessível, introduz o leitor à reflexão antropológica sobre o xamanismo amazônico. “Se essas pessoas fossem insignificantes, já teriam desaparecido. Mas não desaparecem. São profissionais imprescindíveis, pena que são invisibilizados. Há muito preconceito com relação a eles em nossa sociedade, o que contribui para que sejam discriminados. Nosso livro vem na contramão, para mostrar que eles têm muito valor. É para isso que existe a Universidade, para produzir conhecimento com base realista, não reforçando preconceitos e discriminações, mas para mostrar as pessoas, os grupos, as culturas, naquilo que elas têm”, enfatiza o organizador da obra.

Fabiana de Almeida Costa é descendente do povo indígena Borari. Herdou os ofícios de parteira e pajé da mãe, a cacique da aldeia Curucuruí, dona Maria Santana. “Minha mãe foi parteira e pajé por mais de 40 anos, mas antes dela veio minha bisavó, Joana, que também já era dessa linhagem. As histórias que a gente traz na família são a mesma coisa que a gente vai viver futuramente”, acredita a moça.

Uma das coautoras do livro, Fabiana explica que a obra retrata muito do cotidiano nas aldeias. “Principalmente o respeito que existe entre homem e natureza. Por exemplo, todo igarapé tem um encantado, tem uma família encantada que mora lá, então temos que respeitar porque lá é a morada deles. Quando chegamos nesses lugares, temos que pedir licença. É a mesma coisa se eu fosse na sua casa e não respeitasse sua morada”, explica.

Além do depoimento de Fabiana, a publicação também conta com o relato da mãe dela, dona Maria Santana, pajé da região do rio Arapiuns que faleceu recentemente, e de outros pajés de aldeias do Oeste paraense, como, por exemplo, pajé Laurelino, do Tapajós; pajé Pedrinho, de Curuá; e Paulinho Borari, que é pajé e estudante do curso de Antropologia na Ufopa. A obra recém-lançada é uma sequência do primeiro livro do projeto “Isso tudo é encantado” (2014), que mostra a cosmologia dos indígenas e ribeirinhos da região do Oeste do Pará.
Ascom Ufopa

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