De acordo com a Lei de Diretrizes e
Bases da Educação Nacional, a educação infantil deve complementar a ação
da família e da comunidade no desenvolvimento físico, psicológico,
intelectual e social da criança de até 5 anos. Nesta etapa, em que
bem-estar, brincar e interação são essenciais para a aprendizagem e o
desenvolvimento, é preciso estar atento ao tratamento dado aos pequenos
nas creches e pré-escolas. Nem sempre é possível encontrar instituições
que atendam a todos os critérios estabelecidos em lei.
Município vivencia problemas encontrados no país como um todo
Desde 2014, a professora Sinara Almeida
da Costa, do Instituto de Ciências da Educação (Iced) da Universidade
Federal do Oeste do Pará (Ufopa), investiga a qualidade da educação
infantil ofertada na cidade de Santarém. Nas pesquisas coordenadas por
ela, no Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Infantil (Gepei), o
cenário ainda preocupa. A maior parte das instituições precisa avançar
na adoção de práticas pedagógicas mais efetivas para a formação das
crianças.
“Os resultados não são bons. Muitas
instituições até possuem suas propostas pedagógicas em forma de
documento, mas elas são bem diferentes na prática. Elas não têm uma
linha teórica que direcione suas propostas de trabalho. Têm o documento,
mas ele não está sendo aplicado na prática”, afirma Sinara.
Na educação infantil, é preciso que os
professores trabalhem atividades que visem o desenvolvimento de
habilidades que nos acompanharão para a vida toda: capacidade de
raciocínio, abstração, imaginação, criatividade, sociabilidade, entre
outras. A tarefa exige do profissional conhecimento, dedicação e
planejamento, mas diversos fatores, como a falta de formação adequada e a
ampla jornada de trabalho enfrentada diariamente, ainda impedem que
isso se concretize.
Em uma pesquisa realizada com 50
professores da rede pública municipal (cerca de 10% do total de
professores da rede), foi constatado que a maior parte são temporários
(58%). Além disso, 62% não têm nível superior, apenas o magistério. E,
dos que são graduados, apenas 27% dedicam-se à pós-graduação na área de
educação infantil.
De acordo com a pesquisadora, isso
prejudica a construção do entendimento da sociedade sobre a educação
infantil, “que o professor seja visto como profissional da educação e
não como ‘tio’ ou ‘tia’”.
Outro ponto que chama atenção são os
espaços destinados às crianças. Segundo Costa, em geral, são
inadequados: “São casas improvisadas, quentes, sem estrutura necessária,
com materiais de baixa qualidade e em número insuficiente. Quando tem
parquinho, não é arborizado, o que inviabiliza o uso”.
Formação continuada é essencial -
Para Sinara, a formação do professor é a base de tudo. “Se você não tem
um espaço tão bom, mas tem a formação necessária, você pode transformar
aquele espaço em um ambiente agradável para a criança”.
Em 2014, a Ufopa ofertou a
especialização em Docência Infantil para educadores de 27 municípios da
região Oeste do Pará. Apesar disso, nem todas as 150 vagas foram
preenchidas por professores que atuam na educação infantil.
Com a conclusão do levantamento dos
dados sobre as instituições em Santarém, a expectativa é subsidiar ações
do poder público voltadas para a área. “Precisamos desses dados para
mostrar para o poder público que essa situação é real, é séria e tem
consequências. E, a partir daí, o poder público reorganizar o seu quadro
de professores com concursos específicos e uma formação continuada, em
serviço, para que o professor aprimore os conhecimentos que ele já tem”,
destaca Costa.
Leitura e escrita – “Por que
você escreve?” “Porque a professora mandou”. Essa é uma resposta
comumente reproduzida por alunos que estão iniciando a alfabetização.
Segundo Costa, isso é reflexo do uso de uma metodologia de ensino que
prioriza a repetição de números e letras. A consequência tem sido a
formação de adultos que não sabem ler e escrever porque são incapazes de
interpretar ou produzir um bom texto. “Os nossos jovens não estão sendo
autores, estão apenas reproduzindo textos. Quando eles têm que
interpretar o que eles leem, têm muita dificuldade”, afirma a
professora.
A forma mais eficaz de ensino baseia-se
no uso social da leitura e escrita, o que quer dizer que as crianças
devem primeiro encontrar uma motivação para tal e, depois, aprender a
técnica correta. Para ajudar a melhorar esse quadro, a
Ufopa está negociando com o Ministério da Educação (MEC) a oferta de um
curso de leitura e escrita na educação infantil. O objetivo é
aperfeiçoar a prática dos professores da rede pública dos municípios da
região Oeste do Pará. A previsão é de que ocorra em 2017.
Com informações da Ascom/UFOPA
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