O professor Renan Albuquerque, coordenador do Mestrado em Ciências da
Comunicação da Universidade Federal do Amazonas, lançou esta semana o livro
“Balbina: Vidas Despedaçadas”. O livro é oriundo de extensa pesquisa
etnográfica, com 380 páginas e chamar atenção para os 30 anos de inauguração da
pior usina hidrelétrica do Brasil, que fica localizada no município de
Presidente Figueiredo, ao norte da capital amazonense.
No livro, Renan registra que “a Usina Hidrelétrica de Balbina,
localizada no município de Presidente Figueiredo, a norte de Manaus, Estado do
Amazonas, na Amazônia Central/Brasil, foi exemplo de uma grande central
hidrelétrica construída no intuito de fortalecer o desenvolvimento nacional e
local, mas que teve consequências catastróficas aos povos do entorno: rurais,
ribeirinhos e indígenas".
Renan, que possui Pós-Doutorado em Antropologia e atualmente cursa seu
segundo estágio Pós-Doutoral em Psicologia, afirma que a obra também será
lançada em 27 de março, em seminário científico na PUC-SP, com a presença da
etnóloga Carmen Junqueira, reconhecida nacionalmente.
Sobre a usina
A proposta inicial de Balbina era fornecer energia confiável e de baixo
custo para a população da capital amazonense e às empresas que se instalaram na
década de 1970 na cidade, dando capilaridade à Zona Franca de Manaus (ZFM).
Após o funcionamento da última das cinco turbinas Kaplan da usina, em fevereiro
de 1989, perto de 50% do consumo de Manaus chegava a ser atendido pela UHE. Mas
a relação entre a demanda de Manaus e o fornecimento de Balbina não demorou a
se desequilibrar por conta do crescimento da urbe.
Balbina, hoje, é a pior UHE do Brasil, comparando-se potência instalada
com área alagada do reservatório, entre 116 usinas hidrelétricas do território
nacional. Nesses 30 anos de tragédia, segundo o professor Renan Albuquerque, é
importante destacar o quanto foi afetado o modo de vida de comunidades e o
cotidiano enquanto dimensão de convivência, pois em áreas ribeirinhas ele se dá
mediante dinâmica relacionada a rios (higiene, alimentação, trabalho e crenças
compartilhadas).
Para o autor “a invisibilidade perante o poder público é mais enfática em relação
a minorias populacionais. No âmbito da UHE Balbina, rurais, indígenas e
ribeirinhos deixaram de ser contemplados de forma digna a partir de grandes projetos
hidroenergéticos e, no distrito de Balbina”.
Renan enfatiza que “ao deixarem de ser inseridas dentro da esfera
de ações realizadas no intuito de modificar a realidade amazônica, populações
foram penalizadas duplamente: primeiro por serem tomadas enquanto desqualificadas
para participar de modificações sociais de seu tempo e segundo por ter sido
negado a elas a integração na construção de um novo território”.
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