O COMPLEXO DA AMAZÔNIA - Djalma Batista
Atualizado, fichado e comentado
Atualizado, fichado e comentado
Josenildo Santos de Souza.
Dados citação: SOUZA, J. S.
Breve análise da realidade atual
Após mais de 36 anos de sua publicação, a obra – o Complexo da Amazônia, de Djalma Batista, pouco ou quase nada mudou na região. As cidades do interior da Amazônia, especificamente, do Amazonas, salvo as cidades polo, continuam entregues ao abandono: falta de infraestruturas, ausência dos poderes públicos, a economia reduzida ao extrativismo e a agricultura de subsistência. As populações trabalhadoras ao abandono das leis trabalhistas pela ausência das intuições fiscalizadoras.
A tão decantada Zona Franca de Manaus, cujo “modelo visava atender a um importante e imperativo geopolítico básico, isto é, ocupar o território da região e, em especial, aquelas áreas de fronteira e promover o aproveitamento econômico e capitalista da região” (Pontes Filho, 2000, p. 192) que em sua primeira versão (1957) operava como área de livre comercio. Em 1967 passou a configuração atual de Zona de Processamento Industrial, em Manaus não estendeu os benefícios as populações do interior do Estado. .
As cidades desprovidas de ruas asfaltadas. O asfaltamento é paliativo. No período de verão colocam borra de asfalta para criar uma visualidade estética. No período das chuvas torrenciais a estética é das ruas esburacadas, enlameadas ou cheias de areias.
Nos hospitais públicos o atendimento é precário. Faltam médicos, medicamentos. Exames especializados não são oferecidos e a população quando não tem um bom transito com o mandatário político sofre com o deslocamento e a realização dos exames na capital Manaus.
Na questão educacional, ainda que as instituições de ensino superior (UEA e UFAM) estejam presentes nas cidades do interior, não é possível perceber melhoria na qualidade de vida das populações, muito embora seja uma das soluções apontadas por Batista.
No artigo DJALMA BATISTA artigos de jornal - Renan Freitas
Pinto (Edua, 2007), propõe que para compreender e analisar as obra de Djalma Batista, os artigos de jornais que escreveu semanalmente, sobre temas variados, sempre
abordando a Amazônia, no Jornal do Comércio, entre os anos de 1977 a 1978 e sua
relação com as obras O Complexo da Amazônia: análise do processo de
desenvolvimento e Amazônia: Cultura e Sociedade, são extremamente esclarecedores.
O Complexo da
Amazônia – Djalma Batista.
O livro escrito por Djalma Batista, dividido em três
capítulos, procura analisar, descrever e interpretar a Complexidade da
Amazônia, sua necessidade em compreende-la e refletir sua complexidade em
diversas as abordagens disciplinar, interdisciplinar, transdisciplinar e
multidisciplinar, sua pluralidade sociocultural, ambiental, ecológica,
territorial, econômica, política e institucional. Traços marcantes que aferram
o subdesenvolvimento, atraso regional, desigualdades sociais, para então propor
caminhos para o seu desenvolvimento autosustentado, tendo como base o aspecto
socioambiental, ecológico e econômico da região, amparados no desenvolvimento
educacional em instituições de pesquisas, formação de recursos humanos em nível
de pós-graduação, na concentração de esforços a influir na melhoria da
qualidade de vida da população, com o aproveitamento dos recursos naturais em
bases econômicas, visando especialmente, a defesa da Amazônia, sua diversidade
sociocultural e biodiversidade para a economia regional sustentável e para o
futuro da humanidade.
Batista, percebe o Brasil a partir da Amazônia,
trazendo contribuições que "vão da história da medicina, das instituições
de pesquisa, dos processos econômicos e da vida cultural e social que
transcorre no espaço das cidades maiores e no interior, com suas pequenas
cidades e aglomerações humanas espalhadas nessa extensa e variada geografia,
sob um enfoque destinado a esclarecer, no contexto brasileiro, as origens e as
manifestações do subdesenvolvimento regional", escreve Renan Freitas
Pinto, 2007, p. 163.
Parte da tese, segundo a qual para compreender a
complexidade sociocultural da Amazônia, é necessário trabalhar de modo
constante e sistemático a relação região - nação e a relação região -
subdesenvolvimento, com a necessidade de compreendê-la como dimensão do Brasil.
Em suas analises, busca explicações para a falta de perspectivas de sua
população, ao atraso relativo que apresenta em relação ao desenvolvimento
nacional, cimentada em uma percepção crítica de temas e questões vivenciadas na
realidade.
O autor, partindo de diferentes abordagens para
compreender o Complexo da Amazônia, faz uso de categorias de analises de
diferentes campos de investigação como a história, a economia, a geografia, a
demografia, a ecologia, a sociologia, a antropologia, a literatura, para
conectar ideias e mostrar a região com imensas desigualdades sociais e
subdesenvolvimento, é o principal objeto de investigação, observação e
descrição das experiências cotidianas e de prática profissional de Djalma
Batista na região, como profissional da medicina e em ações de saúde pública.
Djalma Batista, adverte que o livro não tem a intensão
de ser cientifico, terá um aspecto polêmico, pela maneira de interpretar os
fatos discutidos. É um livro escrito e pensado no Amazonas, talvez resultado de
subdesenvolvimento cultural reinante.
Para Djalma Batista, a Amazônia é um território
excelente para o desenvolvimento de pesquisa cientifica. Mas também adverte
para a necessidade de uma política que discipline a pesquisa na região e o
respeito às populações tradicionais. De todos os seres atingidos pelo
desequilíbrio ecológico resultante das políticas desenvolvimentistas, os
animais têm estado em primeiro lugar, para atender à alimentação do povo e a
demanda de couros e peles, principalmente, surgida nos grandes mercados
mundiais” (p. 37).
Em relação ao uso da mão de obra, mostra que as leis
trabalhistas não atingiram as populações da área amazônica. Veja: “O trabalho
passou a ser valorizado, mas a vigência das leis de proteção não atingiu bem a
área amazônica, fora das capitais” (p.37).
O objetivo do livro O complexo da Amazônia “é alertar
contra o grande mal, que está à vista: a destruição desavisada do último reduto
da natureza na face da Terra, transformando-o em outra área-problema para o
Brasil, tal como o Nordeste, de terras semidesérticas. Não esquecer que a
Amazônia está situada em cima da linha do Equador, com uma alta pluviosidade.
Sua defesa e sua riqueza residem precisamente na água e na floresta”. (p. 37).
Mostra e analisa o declínio da Amazônia revelando o
descompasso entre a terra e o homem e as desigualdades acentuadas do
desenvolvimento brasileiro. Há o Brasil-amazônico subdesenvolvido e o
Brasil-centro-sul adiantado. Analisa as razoes porque tudo isso vem
acontecendo. Djalma Batista percebe que a economia Amazônica estava estruturada
no ciclo da borracha que com o declínio na I Grande Guerra, quebrou os padrões
econômicos resultado de uma economia centrada em torno de um único produto: a
borracha. “Na verdade, em todo o vale amazônico ficou o mesmo travo amargo de
desesperança e amargura, uma vez que a borracha tem sido um marco em nossa
história e em nossa psicologia, em torno do qual temos vivido uma verdadeira
neurose obsessiva” (p.´ 34).
Prossegue dizendo da inquietação do povo com a falta
de oportunidades e de desenvolvimento da região “a inquietação e o desespero
amazônicos prosseguiram depois da Revolução de 1930, que assinalou
historicamente, o início do processo de desenvolvimento brasileiro, com a
industrialização. O trabalho passou a ser valorizado, mas a vigência das leis de
proteção não atingiu bem a área amazônica, fora das capitais. Durante a década
de 30, vivemos no mesmo abandono, no mesmo atraso e na mesma falta de
perspectiva” (p. 35).
O desenvolvimento da Amazônia ganhou corpo a partir do
governo de Castelo Branco. Diversas iniciativas abriram um novo horizonte para
a população. Djalma ressalta a tese de Agnelo Uchôa Bittencourt, dizendo que o
desenvolvimento da Amazônia não é apenas um problema regional ou local, mas um
problema do povo brasileiro. (p. 35).
Concorda com as
iniciativas dos empreendimentos para a região, entretanto alerta para as
ameaças futuras fazendo as seguintes observações (p.36):
1 – A natureza amazônica não está suficientemente
conhecida e estudada. Considera como prioridade a necessidade de incentivar a pesquisa
cientifica e tecnológica para servir de orientação;
2 – Defende o uso equilibrado dos recursos naturais
como forma de prevenir o desequilíbrio ecológico da região contra as práticas
destrutivas, como o desmatamento desordenado, agricultura itinerante,
esgotamento dos recursos da pesca que acentuarão o desequilíbrio entre a água,
a flora, a fauna, o ar e o próprio homem;
3 - Criação urgente de uma Agrotécnica para
aproveitamento racional das terras amazônicas e a produção de alimentos.
Capitulo I – Da Pan-Amazônia
O Espaço e a Humanidade
A Amazônia constitui um domínio ecológico,
caracterizado e associado ao “potencial de espaço” e o “vazio demográfico”.
Para o autor, Gastão Cruls, sintetizou a ideia de Pan-Amazônia, ao dizer que “ao
Brasil caiba a maior extensão desse imenso vale quase ininterruptamente
revestido de espessa floresta, nele também se incluem boas faixas territoriais
de várias repúblicas hispano-americanas e as três possessões europeias situadas
na Guiana”. (BATISTA, 2007, p. 41).
Para Batista (2007, p. 41), o silvícola, tal como para
a planta ou para o pássaro, não há fronteiras políticas, entre o Brasil,
Colômbia, Peru, República da Guiana, na Bolívia ou na Guiana Francesa, em
qualquer desses pontos, “é o ameríndio quem dita os estilos de vida”. (BATISTA,
2007, p. 41).
A Amazônia constitui-se de uma potência de espaço e um vazio
demográfico. São as etnias indígenas que ditam os estilos de vida na região e a
continuidade antropogeográfica do mundo amazônico. Os Tiriós que vivem nos dois
lados do Tumucumaque. Ianomâmis que circulam livremente entre Brasil e
Venezuela. Tucanos entre Brasil e Colômbia e nos Ticunas que dominam o Alto
Solimões, tanto em território brasileiro, como peruano e colombiano. O espaço é
imenso e a humanidade que nele vive é exígua. (BATISTA, 2007, p. 41-42).
Na compreensão e analise da Panamazônia, Batista
(2007) sugere o exame em uma visão “multinacional da área” considerando a
Grande Amazônia ou Amazônia Continental, de acordo com Armando Mendes, quando
analisou o imenso e urgente problema de aproximação entre as diferentes
populações Panamazônia. (BATISTA, 2007).
As
Diversidades da Região
Culturalmente, as Amazônias diferem muito,
especialmente na linguagem. Cada Amazônia tem as suas características próprias
apesar da aparente homogeneidade geográfica, é pouco habitada e possui
diversidade étnica e cultural, embora a economia não divirja muito. A economia
na Amazônia Continental tem um ponto comum: o extrativismo vegetal ou mineral
predominante, em que cada região toma o seu aspecto próprio. Zonas agrícolas na
Bragantina e costa da Guiana e Suriname. Pastoril na ilha do Marajó, nordeste
do Mato Grosso e nos campos de Roraima. Entretanto a condição de vida de cada
segmento da Amazônia é contrastante e resulta do nível social e das condições
históricas da respectiva população. (BATISTA, 2007, p. 43).
Conceito de
Panamazônia
Panamazônia é um conceito geográfico. Geograficamente,
é uma extensa planície, situada acima e abaixo da linha do Equador, situação de
que decorrem condições especiais de geologia e climatologia. (p.33). A Amazônia
Brasileira foi definida pelo geógrafo Eidorfe Moreira (1958) fixando conceitos
hidrográficos, zoogeográfico, fitogeográfico, econômico e politico, dos quais
só o último não é aplicável à Grande Amazônia. (p. 33). Em princípio, por
Amazônia se entenderiam, todas as terras compreendidas na bacia amazônica.
Armando Mendes apud Batista (p. 34) devemos “encarar a Amazônia no seu
conjunto, ou seja, como um todo continental. Igual conceito já tinha sido
exposto por Samuel Benchimol (1966) e posteriormente adotado por Milcíades
Braga (1973)”. (Batista, 2007, 44).
A Panamazônia
e o Brasil.
O Brasil em face da Amazônia tem uma responsabilidade
muito grande. Ë o detentor da maior parte do rio principal e especialmente de
sua desembocadura. Sugestões que merecem destaque:
1 – aproximar, da melhor maneira possível, os povos
amazônicos;
2 – criar uma política de fronteira que supere o
problema da transferência de produtos brasileiros para os países vizinhos e
vice-versa quebrando o mecanismo de contrabando que vigora intensamente;
3 – estudar questões em comum especialmente de
medicina e ecologia para que se estabeleçam normas preservadoras da natureza de
toda a Pan-Amazônia, e evitando que se repitam os erros anteriores.
4 – estabelecer nos diversos países mercado livre para
os produtos próprios das várias Amazônias;
5 – apoio à navegação fluvial e aérea;
6 – Atrair estudantes dos países vizinhos para as
Universidades do Pará, Amazonas, Maranhão, Mato Grosso e Acre, e mandando a
Iquitos estudantes brasileiros a Universidade local;
7 – Incentivar uma política de cooperação que conduza
à formação de uma consciência amazônica. (BATISTA, 2007, p. 50-51).
Dos Índios e
dos Brancos
O Choque das
Culturas
Djalma Batista diz que em se tratando de Amazônia
tanto é possível que se possa errar afirmando como negando quanto às questões
estatísticas da população indígena da Amazônia. Quem mais sofreu com o choque
cultural trazido pelos colonizadores foram os indígenas da região. Os
resultados foram sumamente graves “houve mudança dos métodos de trabalho e dos
hábitos alimentares; a imposição de novas crenças, embora o absurdo de
pretender que o primitivo pulasse, de um salto, do politeísmo ao monoteísmo; o
propósito de subordiná-lo, pela escravidão declarada ou disfarçada aos
conquistadores, além de modificações profundas na estrutura familiar”.
(BATISTA, 2007, p. 55).
Tais qualidades negativas trouxeram a deformação inter
étnica e a degradação das populações nocivas ao homem da Amazônia. Mas apesar
de tudo isso “o espírito do índio permanece e sobrevive, nas suas grandes
dimensões culturais o que com constitui a maior lição da luta racial secular” (BATISTA,
2007, p. 56) da herança do indígena do Brasil.
Traço
Psicológico da Mestiçagem Cabocla
Mas conforme Batista restou na Amazônia mostras de
herança ameríndia no comportamento do povo. Uma delas, das mais típicas, é “uma
dose visível de preguiça reinante entre os habitantes do vale, uma indisposição
para o trabalho sistemático, um conformismo com o resultado dos modestos
esforços realizados e uma permanente despreocupação com o dia de amanhã. [...]
Outra herança são os hábitos do banho de imersão frequente; as preferenciais
alimentares pelo peixe, pela farinha de mandioca, pelo tacacá e pelo açaí; as
vestimentas de cores berrantes tão ao gosto das mulheres, que ainda se enfeitam
de muitos adereços, com o que estão dia com a moda atual; a fé evidente em
tratamentos por meio de injunções, que traduzem o gosto pelas novidades, e da
aplicação das mesmas injunções na veia, pela crença de que atuam diretamente no
meio interno°. (BATISTA, 2007, p. 63).
Dos Alimentos Indígenas
Naturais
Na Amazônia, a base alimentar é constituída de bens naturais
ou resultante de culturas agrícolas. Os bens naturais eram fartos,
representados por animais e vegetais. No
Reino animal, assinalam-se: peixes, caças, e aves; algumas formigas, larvas de
alguns insetos que parasitam amêndoas de palmeiras como o babaçu, ricas em
gorduras; mel produzido por numerosas abelhas. No reino vegetal, destacam-se os
variados frutos silvestres e o palmito das palmeiras. Existem ainda algumas
ervas, condimentos e diversas pimentas. (BATISTAS,
2007, P. 69).
Plantas Cultivadas
As culturas eram feitas segundo o sistema tradicional
da agricultura itinerante, em consequência da conhecida mobilidade das tribos,
em razão da guerra ou talvez pelo próprio instinto nômade.
O Solo a
Serviço da Alimentação do Índio
Da utilização da terra, tem-se vestígios da chamada
terra preta de índio. Tudo leva a crer que seja de natureza antropogênica. “São
solos de natureza fértil e com horizonte eluvial de coloração negra, devido ao
elevado teor de matéria orgânica. Além dessa característica química, apresenta
elevados teores de fósforo assimilável, cálcio e magnésio trocáveis”. A terra
preta é encontrada em solos do Estado do Pará e no Estado do Amazonas, a
sudoeste de Manaus, entre os Rios Negro e Solimões; rodovia AM-10; e Colônia Agrícola
Cacau Pirêra. (BATISTA, 2007, 71).
A Mandioca absorveu
a agricultura
Na Amazônia, desde antes da colonização europeia, a
mandioca é, fator preponderante e básico da alimentação, representando uma
supremacia indiscutível sobre todas as demais culturas de subsistência. (p.56).
A cultura tem vantagens insofismáveis (rusticidade, facilidade de cultivo e
multiplicidade de formas de aproveitamento), em contraposição a desvantagens
clamorosas (pobreza na composição, constituída fundamentalmente de
carboidratos; a cultura ao alcance do colono pobre e inculto, que visa à própria
subsistência, tornando-se fator evidente de degradação do solo). (BATISTA,
2007, p. 73).
Além da rusticidade a facilidade de cultivo, a
mandioca é transformada através de processos arcaicos, mas que se integram na
cultura da população. Para substitui-la, é preciso que surjam atividades
seguramente rentáveis e produtos que satisfaçam as exigências do paladar e a
força da tradição. (BATISTA, 2007, 74).
Alimentação e
Ecologia
Os primeiros povoadores encontraram a Amazônia semivirgem
e puderam assim ter atendias, com relativa fartura e facilidade, as suas
necessidades biológicas em proteínas, gorduras, hidratos de carbono, sais
minerais e vitaminas. (BATISTA, 2007, 75).
Entretanto, essa fartura, registrada sistematicamente pelos
naturalistas visitantes, até o século XVIII, vem se reduzindo aos poucos, importantes
fontes alimentares, como os peixes-boi, tartarugas, quelônios em geral chegaram
à faixa de alarme, bem como o pirarucu. Mas registra-se que peixes, caça e
frutos silvestres, têm épocas sazonais e dependem de fatores ecológicos especiais.
(BATISTA, 2007, 75-76).
Do Homem Perante
a Geografia
A Primeira Amazônia
Os critérios definidos por Djalma Batista para classificar
a Amazônia, tem como ponto de partida a geografia humana, considerando a
localização de seus habitantes”. (BATISTA, 2007, p. 111). Desse ponto de vista classifica
a Amazônia em três:
a) A primeira Amazônia – Amazônia Brasileira das metrópoles,
Belém e Manaus, cidades representativas, cada qual com suas características próprias,
“e por isso constituem o que chamo de “Primeira Amazônia”, para a qual
convergem navios, aviões, visitantes e imigrantes, além das rendas e da
produção de extensas áreas”. (BATISTA, 2007, p. 111). Ambas mantém vínculos
históricos, políticos e, sobretudo sociais com a Amazônia, porém econômica e
culturalmente estão desligadas da planície. O rio Amazonas exerce o papel de trampolim,
entre as cidades do interior e das metrópoles, que exercem o polo de atração da
economia nas duas principais capitais amazônicas. Na Amazônia Continental, só
vejo, Iquitos, para situar na “Primeira Amazônia”, uma vez que centraliza a
vida econômico-social do Peru pré-andino. (p.112)
A Segunda
Amazônia
A outra Amazônia é a das cidades do interior, tanto as
que se encontram em fase de desenvolvimento ou são sedes municipais, muitas
delas apenas com o rótulo de cidades, como por exemplo, Gurupá, com os traços
característicos de uma sede municipal, com o título de cidade, pois carecem de funções
administrativas, religiosas, infraestrutura básica, escolas, universidades,
ginásios esportivos, aeroporto para pouso de avião, serviços permanente de
energia elétrica, unidades sanitárias ( hospitais, postos de saúde), água
encanada em todos os domicílios, ou pelo menos torneiras públicas, estação telefônica
intermunicipal, agencias de correios, bancárias, portos fluviais.
Ao Estudar o sítio e a posição destes núcleos,
verifica-se que nele não se encontram as atividades de relação que caracterizam
as cidades. “É, entretanto comum na Amazônia encontramos tais tipo de
aglomerados, cuja população se dedica, em sua grande maioria, ao extrativismo e
mesmo a agricultura, ficarem ligados a centros maiores. (BATISTA, 2007, 113). O
povo em geral não tem condições econômicas para custear o fornecimento de água,
luz e telefone, nem viajar de avião.
A falta desses serviços ou a sua precarização, como no
caso, unidades de saúdes sem profissionais médicos especializados, ou em número
suficiente para o atendimento da população, assistentes sociais, psicólogos,
fisioterapeutas. Ou seja, assistência médica muito restrita, a educação deixa
muito a desejar, mercado municipal e feira de produtos alimentares, precárias e
em péssimo funcionamento, por isso a população envida esforços para migrar para
as capitais. Mas um passo importante foi dado em algumas cidades do interior,
foi a “criação de campi universitários, a partir do Projeto Rondon, com cursos
intensivos de licenciatura, do nível superior, em municípios de Tefé,
Parintins, Benjamin Constant Humaitá, no Estado do Amazonas”. (BATISTA, 2007,
p, 113).
Segundo Djalma Batista a situação das populações das
cidades se acham quase todas disseminadas a margem dos rios, é de verdadeira estagnação.
Djalma Batista aponta como solução para
melhorar tal situação a criação de infraestrutura para melhorar a vida e o
desenvolvimento das populações. Portanto, a Segunda Amazônia – seriam as cidades
mais desenvolvidas e com maior contato com a capital.
A Terceira
Amazônia
A Terceira Amazônia – classifico assim a grande área
onde vivem os extrativistas, agricultores, agricultores, pescadores e
garimpeiros, isto é, os trabalhadores rurais em geral e suas numerosas famílias
(moradores das vilas, povoados, aldeias, freguesias, sítios, fazendas,
seringais, castanhais), que constituem, ainda, a grande maioria da Amazônia.
Seus líderes são os donos das terras e dos negócios, e sua voz, ouvida nas reivindicações da região, não representam o povo e sim os interesses de uma
classe dominante. (Batista, 2007, p. 114-115).
É certas que essas figuras humanas que sobressaem na
Amazônia rural são, as mais das vezes, senhores de grande inteligência e
sagacidade, com poder de domínio sobre os seus subordinados e os pioneiros
tiveram papel proeminente na epopeia da conquista e do desbravamento. A
diferença entre eles e os rurícolas, em geral, residia sempre nisso: os
proprietários puderam sair e mandar os filhos para as escolas nas capitais, e
estes raramente voltaram ao interior. Passaram, portanto, para a Primeira
Amazônia. (Batista, 2007, p. 115).
Restou no Interior uma massa imensa, em completa
desagregação social, vivendo em condições sub-humana, embrutecida e aviltada:
´pária entre os párias, solitários, obstinado e cego´ (Edison Carneiro), são os
habitantes das vilas, povoados, ´freguesias´, aldeias, sítios, fazendas,
seringais, castanhais, pontos de comércio e ´colocações´. Essas ´colocações´
são uma criação típica da Amazônia: locais, tanto na terra firme com a beira
dos rios, ou nos flutuantes construídos às suas margens (especialmente nas
embocaduras, para o estabelecimento de um negócio de pequena monta), onde o
homem faz suas habitações rústicas, abrigando mulher e filhos, e tem o seu
ponto de apoio para atividades extrativistas. ´Freguesias´ também é outro
conceito amazônico, registrado por Eduardo Galvão (1954) representando o
´conjunto de seringueiros ou roceiros que trabalham para o mesmo patrão, cujas
barracas ou tapiris ocupam determinada área ou situação. (Batista, 2007, p. 115).
Em geral, a vida continua primitiva, modesta, baseada
na agricultura de subsistência, colheita dos produtos naturais, habitações rústicas, que na maioria das vezes, servem de apoio para as atividades
extrativistas. As populações da Terceira Amazônia, “os moradores do interior
residem a distâncias que ás vezes se contam por horas, de canoa ou motor, para
os vizinhos mais próximos. Poucos moram fora das margens dos rios, sendo
continuamente na enchente, perseguida pela subida das águas e na vazante tem
cortadas, nos altos rios, as, limitadas comunicações” (BATISTA, 2007, p. 115-116),
especialmente a falta da água para consumo.
Segundo Batista (2007, p. 117) uma das soluções de
melhoria nas condições de vida da população “está na educação, como uma das
soluções apontadas para melhorar o desenvolvimento das populações do interior
para elevar o nível cultural e dar-lhes novos horizontes, melhorando as
condições de trabalho e novas perspectivas de vida. E ainda, “criar novas
condições econômicas, reduzindo o extrativismo a um mínimo suportável pela
natureza, sem que está se desgaste do modo avançado a que estamos assistindo”
(p.90).
Referência:
BATISTA, Djalma. O
Complexo da Amazônia: analise do processo de desenvolvimento. – 2ª ed. Manaus:
Editora Valer, Edua e Inpa, 2007.
OBRIGADA PROFESSOR ESTE TEXTO ME AJUDOU MUITO..
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