Artigos referem-se a Relações homoafetivas nas sociedades Tikuna e à Modernidade Sexual na Amazônia.
Josiane Otaviano
Guilherme ou Josiane Tikuna é acadêmica do curso de Antropologia no
Instituto Natureza e Cultura (INC), unidade da Universidade Federal do
Amazonas no município de Benjamin Constant – distante 1.120,49 Km, em
linha reta, de Manaus.
Moradora da Comunidade Indígena Ticuna
Bom Jardim I e integrante ativa do Movimento Indígena Brasileiro, ela
vem estudando a questão de relacionamentos homoafetivos na sociedade
Tikuna e teve os artigos Sexual Modernity in Amazonia e Queeing
Amazonia: Homoaffective relations among Tikuna society publicados
internacionalmente.
Narrativas convencionais desafiadas
O primeiro artigo
foi publicado na revista eletrônica E-International Relations, em julho
de 2015; o segundo, no Livro Queering Paradigms V - Queering Narratives
Of Modernity, de Maria Amelia Viteri and Manuela Lavinas.
Em Modernidade sexual na Amazônia, a
autora, em parceria com a professora Manuela Lavinas, pesquisadora da
área de Relações Internacionais da Universidad San Francisco de Quito
(USF), Equador, desafia as narrativas convencionais ao revelar a
Amazônia como imersa em tendências globais muito mais que os
pesquisadores poderiam suspeitar. “Nós analisamos a política sexual ao
longo do Rio Amazonas e os relacionamentos homoafetivos dentro das
regras Tikuna de exogamia, que é o costume de se casar com alguém de
fora da sua comunidade, clã ou etnia para mostrar a extensão até onde o
'local' e o 'global' interagem um com o outro e se redefinem”, destaca
Josiane Tikuna.
Em Relações homoafetivas nas sociedades
Tikuna, Josiane apresenta o grupo indígena pesquisado como um dos
maiores da Amazônia; explica a organização social deles, estruturada em
clãs, e aborda as tentativas de organizações religiosas, alheias às
regulações da sexualidade entre os Tikuna, de fazê-los enxergar como
defeito moral uniões homoafetivas em seus clãs. “Mais que afligir os
costumes dos Tikuna, novas religiões estão interessadas na regulação da
sexualidade deles. Essas igrejas têm enquadrado relacionamentos
homoafetivos como pecaminosos e o que eram pares corriqueiros sob as
regras do clã tornam-se, progressivamente, pares afetivo-sexuais
anormais aos olhos religiosos, mas não aos olhos dos Tikuna”, destaca a
autora no artigo.
Trabalhos marcados pelo ineditismo
O ineditismo dos trabalhos da autora foi
facilitado por ela residir na Comunidade Indígena Ticuna Bom Jardim I,
no município de Benjamin Constant, região do Alto Solimões/Am. “Esta
pesquisa teve início em 2011 no Programa Atividade Curricular de
Extensão (PACE-PROEXTI), cujo tema é Diversificando: Gênero, Diversidade
Sexual, Fronteiras e Direitos Humanos. O trabalho é embasado na
entrevista com dois casais de ‘Mulheres Tikunas’ homoafetivas anciãs e
um membro da igreja Santa Cruz. As entrevistas foram realizadas em duas
comunidades indígenas na cercania do município de Benjamin Constant.
O
objetivo é mostrar que as identidades de gênero e vivências de relações
afetivo-sexuais configuram-se diferentemente nas culturas e na
história e, portanto, não podem ser neutralizadas. Cada etnia tem seus
princípios, pouco respeitados e reconhecidos. Resolvi seguir firme com
esta linha de pesquisa após ouvir o relato afirmativo de anciã com
respeito à temática abordada e também, por vivenciar o grande índice de
homossexuais indígenas, tanto de mulheres quanto de homens,
especificamente na comunidade Tikuna. A pesquisa levou quatro anos para
ser concretizada, passou por apresentação avaliativa em Seminários e por
um Colóquio em Benjamin Constant, até obter reconhecimento
internacional em 2015”, detalhou a autora.
Portal da Ufam