Isolados, Bravos, Livres – Um
Brasil indígena por conhecer
Há poucas semanas, na calorenta
manhã do dia 9 de setembro, um grupo indígena isolado da etnia Korubo
estabeleceu contato com indígenas Kanamary, às margens do Rio Itaquaí, na Terra
Indígena (TI) Vale do Javari, localizada no extremo norte do Estado do
Amazonas, na fronteira do Brasil com o Peru.
A família de isolados, composta
por mãe, pai e quatro crianças, foi recolhida e levada de canoa para a aldeia
Massapê, dos Kanamary, onde recebeu atendimento médico preventivo, pela equipe
da Secretaria de Saúde Indígena (Sesai), do Ministério da Justiça. Com
dificuldades de locomoção, a mulher foi diagnosticada com uma picada de cobra
na perna.
Em nota do dia 17 de setembro, a
Fundação Nacional do Índio (Funai) informou que desde o dia 10 de setembro o
grupo recém-contatado encontra-se abrigado em sua Base de Proteção
Etnoambiental Ituí-Itaquaí, na TI Vale do Javari. A maior parte dos Korubo
(população estimada em 200 pessoas) ainda vive isolada, entre os rios Ituí,
Coari e Branco.
O primeiro contato com os Korubo
aconteceu com um grupo de 16 pessoas, há 18 anos, em 1996. À época, sucessivos
conflitos com o entorno não indígena acarretaram várias mortes entre os Korubo.
Para proteger a etnia, a Funai optou por fazer o contato, por meio do
indigenista Sydney Possuelo. O grupo cresceu, conta hoje com 33 pessoas e vive
no rio Ituí, na TI Vale do Javari.
TERRA
INDÍGENA VALE DO JAVARI
Com seus
quase 8,5 milhões de hectares, a Terra Indígena Vale do Javari fica nos
municípios de Atalaia do Norte e Guajará, na região do Alto Solimões, no estado
do Amazonas, a 1.136 quilômetros de distância da capital, Manaus. É uma região
bastante preservada, mas que sofre muita pressão de invasores, sobretudo
pescadores de pirarucu, peixes ornamentais, tracajá, e de caçadores, que
abastecem as cidades do entorno. Aí vivem cerca de 5 mil indígenas (eram 3.961
no ano 2000, segundo Censo da Funai) das etnias Kanamary, Kulina Marubo,
Matsés, Matis, e Mayoruna. Existem ainda referências de 16 grupos indígenas
isolados ou de pouco contato, inclusive de outros grupos Korubo, monitorados à
distância pela Funai, o que faz da região o local com o maior número de
indígenas isolados no mundo. Depois de 20 anos de luta, a TI foi homologada por
Decreto da Presidência da República, publicado no Diário Oficial da União em 2
de maio de 2014. Não há mais exploração madeireira ilegal na região onde
ocorreu o contato de setembro.
POVO DO
RIO XINANE
Contato recente no Acre
O último
contato com indígenas isolados antes dos Korubo, no Amazonas, aconteceu no
final do mês de junho, no Estado do Acre. No início de junho, os índios
Ashaninka, da Aldeia Simpatia, localizada próxima ao município acreano de
Feijó, na fronteira com o Peru, informaram a Funai sobre a movimentação de
índios isolados próximos à comunidade.
Ao se
deslocar para o local, a equipe da Frente de Proteção Etnoambiental confirmou a
presença dos isolados e acionou o Plano de Contingência para situações de
contato. Segundo a Funai, o primeiro contato indireto foi feito no dia 26 de
junho, quando dois índios isolados foram avistados nas proximidades do rio
Xinane.
No dia 29, um grupo de sete índios de etnia
desconhecida, denominado “o povo do Rio Xinane”, entrou na aldeia Simpatia. Com
a chegada de novos isolados, o grupo aumentou para 24 pessoas e está vivendo na
base da Funai do Alto Rio Envira, distante 400 quilômetros de Rio Branco,
capital do Acre. Para a presidenta da Funai, Maria Augusta Assirati, o grupo
pode ter buscado o contato com os Ashaninka por pressão e agressão contra eles
por parte de não índios.
http://xapuri.info/povos-indigenas/isolados-bravos-livres-um-brasil-indigena-por-conhecer/